quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Quando falta sobre o que falar mal, você sempre tem sua família

Até os oito anos de idade eu tinha sido aquela sua típica filha única de pais divorciados. Vivia perdida em um mundo onde meus pais se comunicavam por bilhetes para falar mal de mim, achando que eu não sabia ler (e, achando que eu não sabia ler, achavam que eu entregava os tais bilhetes de um para o outro); num mundo em que meu pai era recebido pela minha mãe com cadeiradas nas costas e eu, tão pequena e mimada, tomava água com açúcar pra acalmar meus nervos enquanto um planejava como colocaria o outro na cadeia da forma mais cruel.
Eu tinha duas casas, duas festas de aniversário, dois repertórios diferentes de canções de ninar, um milhão de dramas e ainda assim não chegava nem perto de ser uma criança feliz pela metade, eu era feliz por inteiro com toda aquela atenção, com todos os holofotes sobre mim, com todos aqueles presentes lindos, e eu nem atriz principal era. Meus pais eram os protagonistas da história, eu era vista como prêmio. Como uma criança poderia não ser feliz sendo o prêmio de uma relação, mesmo essa não tendo dado lá muito certo? Bom, eu só não era lá muito feliz quando meu pai me jogava por cima do ombro e me levava pra sua casa de quinze em quinze dias no seu carro que insistia em sempre estar tocando aquela música "viveeer e não ter a vergonha se ser feliz..." que até aos meus ouvidos infantis me parecia extremamente paradoxal e, desde então, sempre tenho vontade de chorar ao ouvir essa música. Mas minha memória sempre foi curta, depois do primeiro ovomaltino que meu pai me trazia eu já nem lembrava a fisionomia da minha mãe (o mesmo vale para minha mãe que apesar da falta de dotes culinários, me comprava com muitas balas juquinhas que logo faziam eu esquecer da existência do meu pai).
Mas tá, se eu for contar todas as minhas pequenas aventuras da infância vou precisar de um livro inteiro (e não acho que muitas pessoas estariam interessadas em ler, além dos meus pais, que ficariam terrivelmente ofendidos pela minha visão deturpada de todas as coisas). Mas não é isso que eu vou fazer. Hoje resolvi que vou contar só a pequena parte de quando nasceu minha irmã.
Sim sim, meus pais continuam separados, então, obviamente, minha irmã é apenas meio irmã, mas meu pai odeia esse termo, então ela é "toda-irmã-linda" quando eu falo com meu pai, e "meio-irmã-filha-daquelazinha-lá" quando falo com a minha mãe, simples.
Enfim, eu podia dizer só que foi tudo uma coisa louca de ciúmes, que eu quebrei uns vasos lá em casa e depois meu pai me explicou como ele sempre ia me amar e nós duas iríamos dividir a herança em partes iguaizinhas e todo aquele blablabla e que ficou tudo bem. Mas não foi assim. Nenhuma história em que eu participo é simples assim. A história da minha irmã nascendo se divide em algumas partes (se você já ficou entediado de ler até aqui pode ir lá ver pornografia no redtube que não vai ficar muito mais animado não):
Parte I - gravidez: a mulher do meu pai ficou grávida e meu pai pediu pra eu não contar nada pra minha mãe. Sem muitos sentimentos nessa parte porque minhas energias foram todas direcionadas para guardar o segredo --> foi também quando eu descobri meu talento de mentir, quer dizer, de ser atriz.
Parte II - nascimento: ela nasceu e durante dois anos eu odiava ir pra casa do meu pai e todos os dias sonhava com formas de entrar no quarto dela e esfaquear ela de madrugada e voltar pro meu quarto sem ninguém perceber. Mas como nunca consegui pensar num bom plano me limitava a apertar as bochechas dela com toda a força e fingir que nada tinha acontecido quando ela começava a chorar (NARDONI ME DÁ UM ABRAÇO)
Parte III - o descobrimento: depois de dois anos que minha irmã tava lá vivona minha mãe descobre sua existência CHAN CHAN foi legal que primeiro ela me parabenizou pelo meu fantástico talento para mentir e me colocou no curso de teatro, depois foi meio chato que ela me deixou de castigo pra vida e até hoje acha que to sempre mentindo sobre tudo (o que é bem sensato da parte dela pra dizer a verdade)
Parte IV - a mudança: meu pai mudou de apartamento e eu tive que começar a dividir quarto com minha irmã, uma coisa louca de ódio contido no meu coração primeiro, não por ciúmes do meu pai nem nada, mas porque as coisas dela eram todas muito mais legais que as minhas e agora eu podia ver isso mais de perto, mas depois a gente acabou ficando migs e jogando várias partidas de banco imobiliário de madrugada (enquanto eu estivesse ganhando, é claro)
Parte V - dias atuais: minha irmã chegou em casa ouvindo uma música do restart, matei ela e estou escrevendo esse post diretamente de bangu I enquanto dou ordens pra traficantes do rio de janeiro queimarem carros e õnibus pela cidade.
Ok, mentira essa parte V, eu não fui presa não.
Hum, não tenho mais o que dizer, talvez se eu acrescentar uns coelhos falantes nesse texto posso transformar isso aqui numa fábula e mandar uma moral da história para todos refletirem. Mas não tem moral, eu só não tinha mais o que fazer (além de estudar pras provas finais da faculdade em que eu me encontro) e resolvi compartilhar essa bela história de amor, de aventura e de magia que só tem a ver com que já foi criança um dia com vocês.

12 comentários:

  1. Ainda bem q na nossa infância não tinha Restart. Sou feliz por isso. :)

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  2. SAHIOASHIOAS adorei. Em poucos momentos lembrei de como foi comigo, vc teve uma irmã, eu tive 3. pff Bom post!

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  3. é o texto é mais ou menos..vc poderia escrever melhor com mais enfase ...mas para pessoas de pouca cultura esta bom

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  4. vc não é a única com pais separados,os meus tb são o importante é que hoje nos temos consciência ,e sabemos que os problemas fazem parte de todos nos, assim como eles tiveram .e temos com ajuda da analise, mudarmos a maneira ver e superar aqueles que foram problemas um dia, construa a sua felicidade como eu, me amando e me respeitando. bjs.

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  5. só gente de bem com a vida aqui, ein. e tem um evangelico tbm.

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  6. Eu não comento em blog, tipo NUNCA...
    Mas como vc kibou minha vida nesse post acho digno deixar um comentário q não seja de ódio.

    EU TE ENTENDO!

    Bjos

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  7. 1. não tenho problema nenhum com meus pais serem separados, acho ótimo, acho que nem eu nem eles poderíamos ser mais felizes de outro jeito.
    2. esse é o meu jeito de escrever mesmo, se não gostou eu não me importo, pode criticar, pode falar o que quiser que pra mim só de ter alguém lendo o que eu escrevi já é uma homenagem.
    3. brigada pelos comentários lindos desse e de todos os outros posts que eu nunca agradeci aqui porque sou limitadinha demais e não achava que eu mesma podia comentar aqui :)

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  8. Ahhh, Carol, adorei seu blog e seu jeito de escrever. Posso imaginar todo o seu ódio-infantil por sua irmã, pois passei por coisa parecida quando nasceu a minha (que, por sinal, está fazendo aniversário hoje). Mas hoje somos amigas e ela nem gosta de Restart...rs. Só estou muito impressionada com sua capacidade de omitir o fato da sua mãe por DOIS ANOS! Você é boa nisso! rs
    Voltarei sempre.
    Beijos!

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  9. Socorro meus pais sao separados e nunca fui a estrela da familia e li isso aqui e adorei e logo sou uma 'pessoa de pouca cultura esta bom' vou ali cortar meus pulsos tchau

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  10. Carol
    Eu acho q uma familia estruturada é fundamental para o desenvolvimento do um indivíduo "normal".
    Infelizmente em alguns momentos a família estruturada não é mais viável e o que acontece?
    Fico tentando imaginar o quão difícil deve ter sido passar por tudo isso praticamente sozinha, acho legal você expor uma situação que ocorreu ha tantos anos atrás mas que pelo visto marcou você profundamente, isso deve ter afetado a sua vida mais do que você pensa.
    O interessante e você relembrar os fatos e mesmo depois de tudo ainda dar risadas de tudo o que aconteceu, significa que você seguiu em frente, o que é muito importante!!
    Parabens pela sua escrita, fico sempre ansiosa pelos seus posts

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