domingo, 14 de fevereiro de 2016

Fevereiro

Você pode me levar para o meio da rua e me deixar parada esperando o carro de som passar ao nosso redor, por cima da gente, por todos os lados, gente que não acaba mais, pulando, suando, jogando papel colorido para o alto e rebolando até o chão, gente bêbada e feliz, gente que preferia estar em casa e gente que não dorme há três dias com as pernas doendo de tanto desfilar na avenida, gente que se ama dividindo a lata de cerveja pra ela não esquentar e gente que se beija apaixonadamente antes mesmo de se conhecer, gente velha e gente nova e gente que se chateia quando os outros param no meio da rua lotada e atrapalham a passagem, gente claustrofóbica como eu e gente como você que traz um punhado de ar fresco para dentro do caos de uma multidão sorridente e desesperada. Você é livre para brincar de carnaval e usar em cada um dos dias uma nova fantasia, livre para comprar tinta vermelha, se enrolar em serpentina e beijar outras mulheres. Você pode ir e pode voltar, quantas vezes quiser, pode comer, dançar, beber, cair e levantar, pode segurar a minha mão e me ajudar a respirar. E você pode porque você é carnaval o ano inteiro, você é aquela batida do surdo que o corpo segue involuntariamente, é bloco de rua, é Marquês de Sapucaí, é o tio sem graça que todo ano quer ver a Mangueira entrar, é o pé imundo depois de pisar em lama e confete, é a purpurina que não sai com o banho, é o ensaio da escola de samba que começa em setembro, você é fevereiro todo mês, o ano inteiro.