sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Fim do mundo

Você sabe que o sol vai morrer, em quatro ou cinco bilhões de anos o sol vai apagar, um gigante entediado vai apertar o interruptor do universo e desligar a nossa luz para que possamos dormir, vai levantar o planeta inteiro entre o indicador e o polegar e embalar o nosso sono na palma da mão, vai desejar boa noite, dar um beijo e caminhar por cima das estrelas até nenhuma mais conseguir brilhar.
Toda quarta-feira é dia do mundo acabar, todo mês tem um eclipse raro que só pode ser visto a cada setenta anos, todo ano o inverno fica um pouquinho mais quente - é o sol chegando mais perto para se despedir. E, talvez, o mundo acabe em um sábado e não em uma quarta-feira, eu sei, que injusto a gente ter que trabalhar a semana inteira sem qualquer apocalipse para descansar os pés - e logo no sábado, sábado a gente tinha combinado de tomar aquela cerveja. Fazer o quê?, imprevistos acontecem. Mas não dá pra remarcar? Remarcar o fim do mundo?, não, não dá, vai ter que ser no sábado mesmo. E a nossa cerveja? Pode ser na quarta-feira, o mundo ainda vai estar lá, a gente senta na esquina do seu prédio e olha as estrelas que não foram ainda esmagadas. Quarta-feira eu não posso, enquanto o mundo estiver por aqui, eu acordo cedo no dia seguinte.
Não vou conseguir dormir ou trabalhar essa semana esperando o sol ser levado embora, vou subir no telhado e estender um cobertor para ficar bem de olho nos movimentos da galáxia, não quero perder a melhor parte e ter que assistir a reprise na televisão, quero ser expelida para uma nova dimensão da primeira fileira, com ou sem emoção?, sempre com emoção e, caso mude de ideia ou não tenha outros planos, vou guardar um lugar pra você ver o fim do mundo aqui do meu lado.