domingo, 10 de novembro de 2013

O bom emprego ruim

Eu gosto de pessoas que detestam seus empregos, pessoas miseráveis e sem rumo que fazem com que eu seja um escape útil e necessário, que me transformam em oportunidade em meio a um mundo aparentemente rígido e fechado, pessoas interesseiras e mesquinhas que, sem qualquer disfarce, me usam como fuga, como festa ou feriado.
Não sinto que haja espaço para mim na vida de pessoas completas, eu não me encaixo no sorriso fácil ao fim de uma segunda-feira, tudo o que vai além de uma rotina infeliz está fora do meu alcance, minha função é preencher vazios, me espalhar por frestas, fazer parte dos grandes blocos de domingo e das massas de ar quente. Pessoas felizes no trabalho não precisam dos meus remendos ou da minha companhia silenciosa, pessoas felizes no trabalho não conseguem ver qualquer valor no meu discurso parco ou nos meus movimentos em câmera lenta.
Eu faço muito pouco barulho, tenho dedos gelados e ando na ponta dos pés, o meu ritmo é de cozimento, nunca ebulição. A insatisfação é o único sentimento que permite a minha existência, fora dela eu desenrolo, desenlaço, me perco no colchão. Pessoas satisfeitas não têm paciência para me esperar, para me ouvir, para me acalmar, pessoas satisfeitas estão sempre satisfeitas demais para deixarem que eu provoque nelas algum tipo de satisfação.