sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Totalmente demais

Me olhei no espelho agora e me assustei com o tamanho das minhas olheiras. Todo dia isso acontece, mas normalmente esse susto vem as 6 e meia da manhã, quando eu mal consigo abrir os olhos de tão inchados de sono, mas hoje foi assim de noitinha mesmo. Devem ser olheiras de tanto dormir.
Minha mãe não gosta de me ver dormindo tanto, sempre que eu me deito e escondo a cabeça com o edredon ela acha que tem alguma coisa errada comigo. Ela até hoje não entendeu que esse é o meu jeito de dormir. Meu padrasto, por outro lado, vive me diagnosticando com depressão: porque eu durmo demais, como chocolates demais, fico no computador demais, saio demais, fico em casa demais, bebo demais, falo no telefone demais, fico sozinha demais, quero fazer coisas demais, leio demais, choro demais, rio demais, sou chata demais, conto piadas demais, vejo filmes demais, não estudo demais, faço compras demais, fico de mau-humor demais, quero conversar demais, tudo demais. (a palavra demais até perdeu o sentido agora de tanto repetir né?).
Com exceção de minhas notas na faculdade, não sei ser medíocre, minhas emoções são sempre demais, ou de menos, mas isso ninguém repara, porque, pra quem vê de fora, tudo é um exagero. As pessoas não distinguem se você faz uma coisa demais ou de menos, elas só conseguem enxergar que é diferente do padrão, só conseguem dizer que não é normal e dai tentam te encaixar em alguma categoria pré-estabelecida. Eu mesma gosto de colocar cada pessoa em sua categoria, porém pra isso inventei um milhão de categorias diferentes, porque acho tudo o que é padrão muito chato (acho que por isso também nunca aprendi a mexer no excel). Alinhar coisas é insuportavelmente entediante. Gosto de tudo desalinhado, tudo bagunçado. Gosto de tirar todas as roupas do armário e jogar no chão só pra encontrar uma meia e depois guardar tudo embolado assim mesmo. Gosto de encontrar um papel todo amassado e desembrulhar ele pra descobrir o que estava escrito e depois ficar com pena de ter deixado ele se amassar tanto.
O problema é que as pessoas não suportam pessoas que são demais, para elas isso sim que deve ser entediante. Para pessoas que vivem no meio-termo, alguém que, por exemplo, dorme mais do que 8 horas por noite (ou por dia, que seja) está com problemas que merecem acompanhamento médico.
Eu não digo que eu sou especial por ir contra essa corrente, na verdade, devo ser exatamente o contrário: devo ser não especial demais.
Talvez por isso eu durma demais. Eu durmo demais porque eu sonho demais. E nos meus sonhos eu posso ser quem eu quiser, posso fazer o que eu quiser, posso dizer o que eu quiser, posso viver minhas emoções mais intensas junto com minhas idéias mais malucas e ninguém precisa ver isso. Dentro da minha cabeça ninguém pode mexer, ninguém pode me dizer o que está errado, ninguém pode me dizer se eu sou ou não normal (o que eu já nem sei mais qual dos dois representa uma vantagem). E, se o preço que eu pago por querer sonhar demais são uns olhares meio tortos quando eu vou até a cozinha pegar meu leite com nescau e umas olheiras assustadoras quando eu me olhar no espelho, está tudo bem, eu não me importo. Além do mais seria horrível desperdiçar toda essa maquiagem que eu compro demais se eu não tivesse nem uma olheirazinha pra cobrir né.

5 comentários:

  1. Você falou 'exatamente' por mim.

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  2. vixe, posso começar a me consultar com vc tipos,vc me descreve tão bem *chora*

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  3. "Além do mais seria horrível desperdiçar toda essa maquiagem que eu compro demais se eu não tivesse nem uma olheirazinha pra cobrir né."

    Adorei essa parte!!!

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  4. "some people never go crazy. what truly horrible lives they must lead." bukowski

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  5. a parte que fala de dormir demais pra poder sonhar sem ngm pegar no meu pé - nem se eu tivesse escrito seria tão igual a mim!

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