segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Serendipity (quer dizer, seria, se fosse verdade)

Hoje me flagrei num momento ridículo. Era um momento só meu, eu não precisava ficar com vergonha, afinal ninguém estava vendo, mas às vezes isso acontece. Às vezes me surpreendo fazendo algo tão patético que sinto como se minha alma tivesse se desprendido do meu corpo e ficasse me observando de fora, apenas zombando de tudo que eu penso como se eu estivesse dizendo todas aquelas coisas em voz alta diante de uma grande platéia que confunde minha tragédia grega com um show de stand-up comedy.
Bom, enfim, lá estava eu no ônibus, ouvindo música, toda largada nas poltronas confortáveis (ônibus do condomínio, porque gosto de pagar de emergente da zona sul pela cidade), tentando encaixar a música certa aos cenários que iam passando, quando, ao meu lado, parou um ônibus comum, estava trânsito e era hora do rush, então tinham várias pessoas em pé no ônibus, obviamente. Fiquei olhando, pensando em como aquelas pessoas deviam estar me invejando naquele momento, querendo um pouco do meu ar-condicionado que embaçava as janelas, quando, de repente, cruzei olhares com um cara lindo parado ali de frente pra mim, segurando na barra do alto do ônibus (acho que todo homem - lindo - que segura na barra do alto do ônibus devia figurar num calendário de bombeiro ou coisa do tipo, porque é simplesmente o melhor ângulo para os bíceps e tríceps que existe) que, para surpresa geral, parecia estar me encarando também.
Me ajeitei na poltrona sem graça e fingi estar trocando de músicas no iPod enquanto via o ônibus do lado se movendo com o canto do olho, sem direcionar outro olhar para o lindo homem bombeiro. Nossa, uma troca de olhares? Foi isso que me deixou tão constrangida? Meu deus, grow up! Infelizmente não, não foi por isso. Ai, como eu queria terminar a história aqui e poupar a Carolina flutuante do constrangimento, mas não, depois que o ônibus saiu do meu campo de visão que começou a parte triste da cena.
Não sei se foi porque eu estava com um vídeo que andei vendo recentemente na cabeça, ou talvez seja mesmo porque chega um ponto em que a solteirice se entranha no seu ser de tal forma que começa a danificar neurônios e provocar pequenos blecautes na área do bom-senso durante o dia. Só sei que quando vi estava revirando minha bolsa à procura de uma caneta pra escrever meu telefone na mão e mostrar pro cara lindo do outro ônibus. "Ai meu deus tem que ser tinta preta senão ele não vai enxergar" "Será que não é melhor eu escrever o telefone na janela?" "Tenho um marca-texto, acho que se eu escrever na janela ele vai me achar mais interessante" (pausa pra testar o marca-texto rosa na janela) "Droga, não pega direito, vai ter que ser na mão e de caneta mesmo" "Se bem que na mão é capaz de ele não enxergar, melhor escrever no braço todo" "Ih, mas o ônibus tá cheio, ele não vai ter onde anotar" "Ah, enfim, é bom que ele seja bom em memorizar coisas" "Será que outra pessoa não vai olhar e anotar meu telefone também?" "Ah droga tomara que ele tenha uma caneta pra me mandar o telefone dele também" (desligo a música pra focar no meu objetivo) "Vou só deixar a caneta aqui na parte de fora da bolsa pra ele não achar que eu já estava pensando nisso, né?" "Ok, agora faz cara de quem não está desesperada". E, nesse tempo todo a Carolina flutuante estava ali me olhando, observando meu diálogo interno como quem assiste às videocassetadas (uma coisa de achar graça ao mesmo tempo que se sente mal por estar assistindo faustão ao invés de estar por aí vivendo ou fazendo sei lá o que que as pessoas costumam fazer domingo à tarde).
E sabem o que aconteceu? Nada. Eu não estava procurando a caneta porque alguém deu a entender que queria meu telefone nem nada, eu estava procurando a caneta porque, na minha cabeça, aquela era a sequência lógica de acontecimentos. Aquela paranóia de sempre de que meu tão estimado conto de fadas do transporte coletivo está prestes a se tornar realidade. Mas é sempre tudo na minha cabeça. O outro ônibus nunca mais passou do lado do meu, minha caneta está até agora na parte da frente da minha bolsa e aquele cara do calendário de bombeiro provavelmente não era o meu Mr Right, ou até era, Mr Right on the wrong bus.
O pior não é nem ter que conviver com a vergonha alheia de mim mesma, já estou acostumada com esse meu subconsciente petulante opinando sobre tudo o tempo inteiro, o problema mesmo é que esse não é um episódio isolado. Eu vivo por aí esperando um desses encontros repentinos com o homem perfeito, caçando pequenos momentos que eu possa descrever depois como memoráveis, sonhando que vagões de metrô, bancos de ônibus e filas de banco estão repletas de potenciais Mr Right só esperando o olhar certo para fazer um movimento que vai mudar nossas vidas para sempre. Esperando a hora de apertar o REC cerebral pra não deixar de contar nem um detalhe quando meus filhos perguntarem como conheci o pai deles (mesmo que ele venha a seguir o curso natural de todas os meus relacionamentos e se torne um babaca depois).
Acho que já não consigo mais enxergar a linha tênue que separa uma pessoa sonhadora e idealista de uma pessoa fracassada e patética sem a menor noção da realidade, né?.

12 comentários:

  1. gente eu vi minha vida toda nesse texto agora (exagero: trabalhamos)ó, eu sempre fui assim que nem você, sempre me critiquei mentalmente e sempre procurei pelo meu mr. perfect (o chamava assim, só pra deixar a situação mais babaca) e só o encontrei quando eu parei de procurar, parei de olhar janelas alheias. por mais babaca que isso possa soar, eu o encontrei quando eu parei de procurar. e tenho certeza que isso vai acontecer com você. é assim com a maioria dos que passam pelo mesmo que passamos

    agora veja bem nao leve minhas palavras em consideração se você apenas criou o texto e nada mais até pq ninguém pediu minha opinião, etc

    resumindo: teus textos são ótimos

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  2. caraleo... as vezes eu invento de bancar o fodão e dar um beijo na boca da menina na despedida, o máximo que faço é beijara testa....que horror

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  3. Dá próxima vez levanta a blusa e mostra o peito! É o que eu faria ;)

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  4. Olá,
    Seu texto me lembrou um outro de uma amiga minha que parece viver como num seriado. Coisas só acontecem com ela...E as vezes, as coisas acontecem de verdade. ;)

    http://rebiscoito.wordpress.com/2010/06/26/amores-breves-de-metro-podem-dar-certo/

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  5. "Fracassada e patética". Ahh por favor! Vc vive chamando as pessoas d lindas, mas na real: a linda é vc.
    Então se liga aê, q todo mundo passa por situações como essa. E q acabam virando bons posts ou bons livros.
    E sem essa d q vc quer ter um começo bem legal pra dpois contar pros netos...foi como vc disse, pode ser o q o conto d fadas vire um pesadelo mais tarde e apague tudo q vc (perdeu tanto tempo) esperou (ou pode ser q os netos ñ queiram ouvir). Sei lá, acho q o mais importante é viver. E é o q vc tá fazendo: tentando anotar o nr do tel na mão p/ um desconhecido rs
    Patético seria se ele se ñ anotasse.
    O essencial é rir de nós mesmos (e dos outros tb às vezes)
    Bjos Carol

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  6. Olha, minha vó me manda parar de procurar pelo Mr Right desde que eu tenho sei lá 12 anos, e essa tática nunca funcionou rs

    Pedro, como assim tentar dar um beijo na boca? tipo beijar a desconhecida do seu lado e sair correndo?

    Fabiana, eu adoro o blog da rebiscoito, leio sempre, aliás esse vídeo que eu to falando eu vi pela primeira vez no blog dela e tá guardado nos meus favoritos desde então pra eu assistir de vez em quando (o link tá ali no post, é só clicar na palavra vídeo)

    e eu vou continuar tentando né, acho que ainda posso dar uma chance pra essas coisas antes de comprar um estoque de doritos e 15 gatos né? rs

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  7. Nossa, seu post resume a bad IMENSA que eu tava esses dias aí(tá, ainda tô ne), em que eu fico me repreendendo porque assisto a muitas séries e filmes muitas coisas do tipo, e acabo projetando isso na minha vida. Tava indignada porque existe triângulo amoroso em TODOS os CANAIS da tv, menos na minha vida, mas a real é que eu não sei, sabe. A gente se frustra porque a nossa vida não é um filme com a Zooey Deschanel (odeio ela), mas a verdade é aquela coisa que o Exaltasamba sempre canta ne: deixa acontecer naturalmente. kkk zuera. Mas só isso me conforta mesmo. #foreveralone

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  8. pelo lado positivo veja que vc consegue formular possibilidades em tempo real.. só falta a coragem.

    eu tendo mais a fantasiar nesse estilo mas com o tempo verbal no passado.. num quase sempre eterno "poderia ter sido"..

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  9. E nossa, obrigada Blogger por mandar o meu comentário sem UM ENTER SE QUER.

    Beijo!

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  10. Me identifiquei de cara com esse seu texto! Vivo passandos por essas situações a onde me vejo numa cena de alguma série, filme. Mas em seguida me pego com vergonha de mim mesma, é a vida. Eu sigo em busca procurando meu Mr.Darcy :)
    É normal a gente se sentir fracassada as vezes, entretanto o a gente seria sem idealizarmos alguém? Se a gente esperasse por qualquer um não seria a mesma coisa.

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  11. Seus textos são auto-biográficos? pq se vc retrata suas experiência vc um viu ou viveu nada!

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