quinta-feira, 15 de setembro de 2011

No escuro e vendo

Fecho os olhos pra não ter mais que te escutar, seus sussurros são opacos demais, suas palavras perdem a transparência no momento em que começa a colori-las. A cor faz ficar mais feio o seu papel, não é algo comum. Assim tão próximo, seu corpo transforma-se em borboleta, colorido e repugnante, não é a cor que vai te tirar da posição de inseto, nenhum fingimento pode fazer desaparecer as escamas que carrega nas asas. Suas palavras, entretanto, são mariposas, grotescas ao olhar de perto, porém leves, tranquilas de ouvir de longe; não tentam fingir uma beleza que não têm - suas palavras, as mariposas. Me agrada a sua polinização sincera e desengonçada, monocromaticamente correta em uma natureza fútil e espalhafatosa.
Fecho os olhos e você desaparece, junto com a paisagem, junto com tudo o que eu já quis que você fosse: estátua, espada, esfera, anzol; talvez eu valorize demais as palavras em detrimento das imagens, porém, devo confessar, não sei colorir seus parágrafos dentro das linhas e acho também que ninguém te ensinou a falar colorido sem se borrar.
A solução é ouvir em preto e branco.
O caminho mais curto é me cegar pra tua voz, mas não se perca em um conceito de desafio, há muitos anos coleciono rouquidão, isso é tão ridiculamente fácil, é preciso apenas juntar todo o tempo em que se fecha os olhos pra piscar para ficar a maior parte do dia sem enxergar.

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