segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Aos treze

Eu nunca deixei de ter treze anos.
Hoje eu me formei médica, e continuo tendo treze anos.
Meus instintos são ainda aqueles inatos, não adquiri muitas novas percepções, minha forma de amar é infantil e meu cérebro continua a funcionar no mesmo ritmo do de qualquer pré-adolescente confuso e desesperado por atenção. Meus sonhos são efêmeros e meus planos são de curto prazo, meus desejos são de uma rebeldia quase inocente. Tenho vontades que não cabem em mim e tenho quase a mesma quantidade de preguiça em buscá-las. Sou letárgica e ambiciosa, tenho muitas ideias e pouca disposição. O mundo ainda me apavora de formas inimagináveis, as pessoas me parecem absolutamente incompreensíveis e eu sigo na mesma direção que meus colegas como uma criança esquecida e perdida.
As pessoas da minha idade comemoram e celebram suas conquistas e sua maturidade, enquanto eu cruzo os dedos e fecho os olhos implorando para crescer, crescer rápido, crescer todos os anos de uma só vez, crescer antes que me percebam uma farsa e me escoltem de volta aos portões do colégio primário para tomar aulas de gramática e aritmética e conversar sobre o meu primeiro beijo.
É esperado de mim pensamentos de adulto e atitudes de adulto e eu estou tentando, juro que estou tentando, sou uma criança a frente do meu tempo, consigo me camuflar bem em meio aos adultos, mas preciso admitir que, mesmo velha e cheia de rugas, mesmo médica e cheia de responsabilidades, talvez eu nunca deixe de ter treze anos.

Um comentário:

  1. Você escreve de uma maneira que enche o coração do leitor, de maneira plena. Você está crescendo sem saber . Você cresceu e não sabe, porque não quer crescer. Você é feliz e não sabe que é e parece eu não quer ser. Aproveitar o tempo é aproveitar a vida e vive-la na sua plenitude. parabéns pelo que você e e pelo que escreve.

    ResponderExcluir