sábado, 6 de julho de 2013

Coração na cabeça

Às vezes não consigo dormir de tão forte que bate o coração. De início, pensei ser um sintoma de amor, eu sentia o amor, conseguia segurá-lo pelo braço, soletrar o seu nome, beijar o seu rosto, lia poemas de saudade e ficava feliz em deixar o coração me bombear. Ainda pensando que era amor, eu não tomava calmantes ou pílulas analgésicas, mesmo quando o pescoço doía e o sangue arranhava, eu simplesmente me resignava aos seus efeitos colaterais e permitia que ele batesse no ritmo que bem quisesse, chocando-se acelerado ou perdendo um ou dois compassos.
Mas, então, acabou. Acabou o amor e o coração continuou batendo, batendo forte, socando o peito, estourando os ossos, roubando o ar. Fui fazer exames. Deixei que um médico de cabeça branca e cintura larga escutasse o meu coração.
“Está batendo tum-tá?”, perguntei.
“Está. Ouça.”, ele aumentou o volume do monitor e eu ouvi: tum, e, depois de um tempo: tá.
Parecia estar tudo bem.
“Mas esse tum não está muito longe do tá?”, duvidei.
“Está normal.”, disse o médico.
“Mas não está demorando demais?”, insisti.
“Você faz exercícios?”, o médico perguntou.
“Não.”
“Bom, de qualquer forma, isso não tem muita importância.”
“Ia bater mais rápido se eu fizesse exercícios?”
“Não, mais devagar.”, o médico respondeu com um olhar confuso.
No ínterim da consulta, meu coração sapateava com violência, agora certamente quebrou uma costela, pensei. Com discrição, encostei a mão na lateral do corpo e examinei a contiguidade de cada osso, inteiro, inteiro, inteiro, inteiro, inteiro, inteiro, inteiro, senti sete costelas inteiras, percebi o coração fibrilando de leve, como se caçoando da minha ingenuidade. Expliquei ao médico como me atrapalhava para dormir, o coração.
“Não é a cabeça?”, perguntou o médico.
Encarei o homem com perplexidade, a cabeça, não, não era a cabeça, eu sinto o coração bater, ouço o barulho do coração a noite inteira, deve estar dilatado, estourado, arrebentado, não é na cabeça que ele bate, é no peito, no tórax, se o senhor quiser o nome correto, está batendo agora, como pode ouvir, e à noite bate ainda mais forte. Fui para casa.
Passou um mês e resolvi amar de novo, e o coração não parou nem por um segundo, bateu forte como no primeiro amor, talvez mais, visto a fragilidade que ganhou nas paredes após tantas batidas, meu coração não discriminou um amor do outro, não separou nem mesmo o amor da falta dele, continuou batendo descontrolado como um órgão degenerado, ou cronicamente insuficiente, ou de um paciente infartado, diriam os românticos que bate como se amasse a todo tempo, mas o médico estava certo, afinal, é na cabeça. Não, o coração bate incoerentemente forte no peito mesmo, mas o amor, este é só na cabeça.

7 comentários:

  1. Muito bom. Amar é muito bom e sem amor, a vida é vazia. Ame e ame cada vez mais que seu coração não é de papel. Parabéns!

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  2. Se vc tem a idade que diz que tem, temos a mesma idade. Se vc não tem a idade que diz que tem, eu tenho a idade que vc diz que tem. Logo, tenho um amor muitoi grande em meu coração que faz da minha vida, uma vida muito vida e esse amor é o que faz encontrar o amor. Tenho amor por mim, gosto de mim. Gostando de mim, me acho linda e perfeita, mesmo que os outros não me achem. Não me importo com a opinião dos outros. Gostando de mim, aproveito para me amar e ser amada. Vc é assim? Parece que sim e se não for, procure ser. Ser linda e poderosa, também está na cabeça e no coração. Vc é inspirada por tudo que escreve e por isso, sigo seus artigos e tiro muito deles. Continue e se ame, se ame muito e sempre a felicidade estará em sua cabeça e em seu coração.

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  3. Eu queria saber escrever assim. ♥
    Perfeito.

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  4. E quando a gente se apaixona por um cantinho e não quer mais sair?!
    Adorei o seu cantinho!!!!
    Voltarei sempre!!!!
    Beijos!!!

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  5. é só na cabeça? e como se tira um amor da cabeça?

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  6. você é a melhor pessoa da internet (espero que leia isso)

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