sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Cinquenta e nove e meio

Você me liga e eu quero te contar do meu dia, a sua voz está fria e eu quero falar de amor.
Me esforço para que minha voz pareça tão indiferente e distante como a sua já é naturalmente, então falo exatamente o oposto de tudo o que estou pensando, só fico satisfeita quando a frase me parece bastante cruel aos seus ouvidos (acho que você aguenta), mas seu tom permanece inalterado, vejo que acha graça das minhas maldades, a sua risada morna esquenta a minha orelha pelo telefone, minhas crueldades de amor não têm efeito algum sobre você.
Quero entrar na sua voz. Quero morar na sua voz.
Quero gravar minhas iniciais com uma navalha nas suas cordas vocais - o nó que a gente deu ficou frouxo demais.
Eu gosto de te ouvir enquanto coleciono palavras. Sua voz é muito fácil de desmembrar. Antes mesmo de você ir embora eu já colecionava essas palavras. Estúpidas. Desesperadas. Viscosas. Essas palavras que eu sabia que deixaria de dizer. Tenho hoje tantas delas guardadas que me pergunto, com uma certa surpresa, sobre o que conversávamos.
Mas que tolice a minha, nós não conversávamos.

5 comentários: