domingo, 27 de maio de 2012

Rio de Janeiro

O meu medo é que a gente deixe essa semana passar, que o mês inteiro passe, dois meses, um ano, sabe lá quantos anos a gente vai deixar passar. O meu medo é que a gente mude. Quer dizer, é claro que vamos mudar, a questão não é essa, minha preocupação é que é possível que deixemos esse tempo passar indefinidamente até eu não mais saber da sua vida, até você também não saber nada da minha, até sermos pessoas diferentes, separadas por incontáveis mudanças, milhares de minutos de distância, que nos impedirão de, algum dia, voltarmos para as pessoas que fomos, ou que quisemos ser - ou que pensávamos querer ser.
Nós não vamos nos esbarrar por aí como acontece nos filmes. Eu não vou ter a oportunidade de ver a sua felicidade de relance, de tramar contra o seu novo romance, de perguntar se ainda existe uma chance. Isto não é uma comédia romântica, não temos direito à rimas e à saudades. O traçado urbano abaixo de nós foi desenhado com o intuito de impedir o nosso encontro. Nosso primeiro esbarrão foi uma falha do acaso. Os outros que seguiram foram pura teimosia. A cidade foi construída pensando na nossa separação e, daqui a pouco, após uns tantos quadrados riscados do meu calendário, após eu perder a conta das tantas páginas e dias que se passaram, seremos aquelas pessoas as quais estamos destinados a nos transformar, com novos pensamentos, com ideias diferentes sobre o capitalismo, sobre as mudanças climáticas, sobre os personagens das nossas séries favoritas, estaremos em universos paralelos, separados por treze ou dezesseis estações de metrô que nunca se cruzam.

4 comentários:

  1. Lindo , lindo, mas vc, se for protagonista, lute e não tenha medo de viver um amor e não tenha vergonha de ser feliz. feliz. Bjs

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  2. você escreve tão bem...a vida é assim mesmo sempre nos levando a destinos diversos daquele que planejamos mas que nem sempre lutamos verdadeiramente.

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  3. Acho que você tem um dom de traduzir em palavras sentimentos e isso é difícil, mas meu medo é que o traçado urbano um dia me faça esbarrar em gente assim, chegada a uma deprezinha...coisa como você mesma disse CAFONA. Nascemos para viver bem, por isso busco pessoas de bem com a vida.Essa mania "calçinha" de escrever sobre amores passados já deu né? Entender que um lance acabou faz parte do amadurecimento...homem também sofre por amor mas pra que cultivar saudades que não são boas, cuido de cultivar as saudades boas e saudáveis. Vim ao mundo para viver e se preciso for vou chutando as canelas e levando caneladas, dói muito! mas passa e se passou, pra que manter num presente forçado?

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  4. migsss, amei. seus textos me orgulham!! beijos larissa

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