quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Silêncio pra falar de amor.

Eu não sei falar de amor. Não acho que saiba viver o amor também, mas falar dele é ainda mais difícil. O descontrole, a falta de foco, o estômago petrificado. Tudo muito desconfortável para ser traduzido em palavras.
Estranho como algo que provoca tantas sensações desagradáveis possa ser tão desejado. Desejado pelos outros. Eu nunca desejei o amor. Nas minhas brincadeiras de boneca mais inocentes ninguém jamais via Barbie se casando com Ken. Minhas Barbies eram promíscuas, alcoólatras, travestis, deficientes físicas, tudo, menos apaixonadas. Minhas coleguinhas de play ficavam horrorizadas, convidavam minha Barbie para um cruzeiro no novo barco de plástico que ganharam de natal. Um cruzeiro que era para ser de sol e água de côco e eu transformava em um transatlântico para tráfico de prostitutas, mais pela minha falta de compreensão da palavra TRANSAtlântico do que por qualquer outra coisa, mas ainda assim, um grande desvio.
Logo pararam as brincadeiras, saíram as Barbies e começaram os flertes no play com os meninos que voltavam suados do futebol. Eu achava legal, achava bonito correr com garrafinhas de água para recebê-los fora da quadra, mas, quando as amiguinhas começavam a escrever cartinhas de amor e dizer o quanto estavam apaixonadas, eu me colocava a fazer colares de miçanga pra vender na porta do supermercado da rua. Ficava desconfortável com aquelas demonstrações de amor tão escancaradas, tão sinceras, tão fora da minha realidade.
Isso começou a mudar no dia que resolvi mandar meu primeiro cartão para um menino. Eu não gostava dele, mas queria fazer parte de todo esse clube de meninas que morriam de amores pelos cantos. Era seu aniversário e ele tinha ido na casa da minha avó para ter uma aula particular de matemática ou algo assim. Achei que ia ser uma ótima idéia lhe mandar um cartão com um QUIZ: "VOCÊ GOSTA DE MIM? ( ) SIM ( ) COM CERTEZA ( ) MUITO". Coloquei em cima do seu caderno e me escondi atrás do sofá (pois é), apenas para desejar morrer quando ele me devolveu o cartão com uma nova opção criada a caneta e marcada de outra cor para reforçar a idéia "(x) NÃO". Minha primeira rejeição. De caneta vermelha ainda. Meio triste que ele achou que precisava usar vermelho. Enfim, não preciso nem dizer que fiquei apaixonada. Pedia pra minha avó tirar fotos dele sempre que ia ter aula e guardava todas no meu diário, escrevia seu nome de batom no espelho, tudo isso. E então, no dia que ele resolveu que ia me chamar pra tomar um sorvete eu simplesmente... brochei. Disse que não gostava mais dele, e não gostava mesmo. Nunca tinha gostado. Estava encantada pela idéia de não poder tê-lo pra mim, nunca tinha sido amor, eu só achava que era. Era cedo, eu ainda podia ficar confusa quanto ao conceito de amor, né?
Mas depois disso, minhas inadequações e insucessos amorosos só foram crescendo e se desenvolvendo, permitindo que minhas inseguranças e neuroses se multiplicassem como gremlins atirados na água. Continuei confusa em relação ao amor.
Acabei descobrindo o que era. Acabei vivendo com algumas borboletas no estômago por tempos. Apesar de não ter sido o que eu queria, fui obrigada a viver com elas. E ainda sou. Me apaixono por quem não quero e jamais desejo aqueles que demonstram gostar de mim de alguma forma. Mas ainda não sei explicar o que é. Ainda não sei falar sobre ele, ainda preferia que ele não existisse, ainda acho mais bonito viver uma série de desventuras sexuais do que uma doída história de amor (sempre é meio doída), mas ele está aí, todo dia, brincando de me fazer de boba.
Não sei falar de amor, talvez nunca aprenda, mas sei sonhar. Nossa, quão pateticamente utópica e ridiculamente idealista foi essa frase? Mas é verdade. Sei viver o desconforto com altivez dentro do meu inconsciente. Sei acreditar que um dia vou parar de acreditar na rejeição como um gatilho para o amor. Já aprendi a colocar minhas Barbies para dormir de conchinha depois de longa viagem no mar. Só me falta alguém que não cobre de mim o que eu não sei, que é falar. Preciso de alguém que aceite meu amor torto sem perguntas, sem cobranças, sem toda a carga emocional dessa realidade chata e sufocante.

24 comentários:

  1. Simplesmente verdadeiro, obrigada por colocar em palavras, e com uma ótima alusão a gremlins, o modo como minha vida é quando se trata de amor. Ótimo texto. Espero que você encontre esse alguém.

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  2. Impressionante como os tempo mudaram, e o foco de viver somente pro amor sumiu..e confesso que vc nao é a 1a, eu não sou a 2, e pode ter certeza que existem milhões de pessoas(inclusive amigas minhas)que, seja lá se for por desacreditar no amor, ou acreditar que na hora que for aparecer,é pq era pra ser..as vezes bate uma coisa doida, de não saber o pq de ser assim, mas fazer o quê? não dá é pra parar de viver e ficar amargamente reprimida por causa de um amor que ainda não apareceu ou não aconteceu.
    Adoro vir aqui :)
    beijo

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  3. Muito bom o texto. Ser sentimental sem ser piegas. E escrito praticamente em copy.

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  4. Eu sempre leio o feed, sempre acho o máximo a grande maioria das coisas que você escreve, mas nunca comento.

    Só que eu precisei vir até aqui pra dizer que É ASSIM MESMO.

    E te desejar sorte, pq né, não tá fácil encontrar isso que a gente quer.

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  5. Demais. Vivo. Absoluto. Íntegro.
    Texto de sentimento, texto de amor (só vc não percebe)
    Vc é total!
    Aprenda a falar. É fácil! Arranje e aceite um empurrãozinho profissional que vai dar certo.
    Corra atrás desse amor que ele está na sua porta e vc não vê.
    Fale, fale, derrame tudo u pensa em palavras, que elas são sábias e serão entendidas,
    Fale muito para vc ser entendida.
    Seu amor está perto... muito perto , mas vc o barra com seu silêncio e com sua PAREDE.
    Vim aqui e amei esse texto , VALEU!

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  6. Cheguei, li, gostei.
    Vai fundo no que vc passou e divida tudo em miúdos para alcançar como vc está perdendo tempo.
    Esse NÃO em vermelho não significa NADA. Eu tive tanto não e os que eu ganhei, eu os coloquei no lixo e só vejo hj, os Sins, que adquiri com meu esforço, boa vontade e com meu poder positivo. Para isso, tive i,a ajida psicol[ógica e ninguém me seguar.FALO O QUE QUERO E SOU feliz, DEPOIS DE TER PENADO BEM....
    vÁ E VOU VENDO VC AQUI E TE SEGUINDO I QUE

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  7. Vim até aqui li tudo com atenção e gostei,
    O garoto que respondeu em vermelho, com tinta vermelha.... como será que ele está agora? Deve ter sempre uma caneta vermelha, com tinta vermelha e com cara vermelha.
    Sa be dele?
    Vale a pena saber dele, para ver se vale a pena achar que ele foi uma rejeição....Tente e terá uma resposta.....
    Gostei de seu texto. Só não gostei do menino de tonta vermelha.

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  8. dizem que um texto bem feito é o que ler a você e não você a ele - ? - adooooorei, criativo, super engraçado e com fundamento. Onde é que eu favorito ou dou RT ?

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  9. Leio seu blog toda semana.
    É muito bom!! *-*

    Obrigado pelos seus textos.

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  10. A gente precisa se abrir(inclui falar) para deixar o amor acontecer...fugir ou fingir q as coisas não acontecem não é a melhor solução, e td tem solução basta saber onde buscar. Vc escreve bem é autobiográfico ou fantasias de uma mente em ebulição?

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  11. Cara, me tocou isso.. E me fez pensar que é isso mesmo. Engraçado você escrever uma coisa que eu sentia, mas não sabia como explicar.

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  12. Muito bom o texto, mas tive que me ater as suas brincadeiras com as Barbies. As minhas também eram alcoólatras, prostitutas, deficiente físicas. Engraçado isso. Nunca soube de alguém que fizesse isso também.

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  13. Entendi seu texto.
    Só não entendi vc querer ser entendida sem se fazer
    entender.
    Como isso pode acontecer?
    Calar, calar, calar.....Que coisa estranha.
    Falar, falar, falar.... que cosa absorvente e coerente.....
    Comece a falar, mas falar de verdade, nem que seja por experiência e verá o desenrolar de acontecimentos.
    Vc vai se surpreender como é fácil, muito fácil.
    Valeu ser sua leitora seguidora.
    Fique atenta ao tempo e vai ao amor,.

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  14. kkk rachei do menino kkk
    A M E I seu texto, muito foda

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  15. Vale tudo que vc escreve, salvo quando fala de doença.
    Parece que não tem noção do que seja HIV e brinca com essa palavra como se fosse sorvete.
    Será que tem noção? Acho que não. É muito triste ver uma doença tão grave, corrosiva, ser levada na brincadeira.
    Atente para isso. Reflita para o horror que é esse vírus.
    No resto, VOCÊ É 10.

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  16. É como se eu tivesse escrito esse texto, mas com um final diferente! Já aprendi a dormir de conchinha e enfim, hoje sou feliz por ser amada pela minha forma de amar, sem cobranças e com TODA essa carga emocional dessa realidade LINDA! =) Você é o máximo! Beijos

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  17. Eu falo muito...já me disseram isto, por esse falar demais acabo por me abrir c/ quem não deveria e aí cara é só munição contra vc!mas falr de menos também não é o bom O ideal é tentar falar o suficiente, como é q as pessoas vão ajudar s/ q se peça pela ajuda, travar sentimentos bons ou ruins pode ser uma péssima escolha...mas em determinados momentos o silêncio é OURO!

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  18. Cheguei, li, gostei.
    Só não gostar de vc não notar a vida passar .Veja tudo em volta com os lhos de amor.
    Veja as flores, os mares, os rios, as florestas, as montanha e veja VOCÊ.
    Cara, vc é linda
    Mocidade passa e aí.... nada....Ame sua pessoa, sua vida e corre que a fila anda, cara.

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  19. Muito bem escrito, adorei e me identifiquei pra caramba! LIIINDA, hihi

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  20. "Preciso de alguém que aceite meu amor torto sem perguntas, sem cobranças, sem toda a carga emocional dessa realidade chata e sufocante."

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