Eu nunca fui uma pessoa completa. Há anos venho colecionando pedaços
de pessoas, pedaços pequenos que furto enquanto ninguém está olhando,
espero o momento exato em que alguém encontra-se distraído e arranco um
fragmento que acho que não irá lhe fazer falta. Vejo as pessoas ao meu
redor como imensas lojas de departamento que deixam em suas vitrines uma
permanente exibição de fragmentos de si mesmas, fragmentos que eu
preciso desesperadamente adquirir para colar em meu próprio corpo.
Minha
pele é um quebra-cabeças cheio de peças faltando, roubo centenas e
milhares de pedaços e tento encaixá-los todos em mim, pedaços tão
simétricos e arredondados que demoram um tempo incomodamente longo para
alinharem-se junto aos meus espaços disformes e com limites mal
definidos.
Me encanto por pessoas inteiras e me dedico a
desmontá-las aos poucos, me apaixono por seus pedaços e não consigo
controlar minha vontade de embaralhá-los, de tirá-los do lugar, de
espalhá-los pelo chão da casa ou jogá-los pela janela em um dia de
ventania. Me aproximo de pessoas inteiras apenas para que me permitam
rolar sobre seus pedaços e torná-las um pouco menos harmônicas, um pouco
menos estáveis dentro de seus corpos. Quero ganhar de presente de natal
pedaços de pessoas que um dia foram inteiras embrulhados em papel
colorido e andar de mãos dadas somente com aquelas que ficaram tão
despedaçadas quanto eu.
Eu ainda me impressiono com seus textos, não sei por quê. É de uma sensibilidade incrível, que traz paz.
ResponderExcluirContinue escrevendo, por favor.
Um beijo, @qualsabrina