O nosso amor é como aquele livro que você me deu e que eu nunca li,
perfeito na sua condição imóvel, tentador pelas possibilidades que
carrega, irresistível em seu formato, em sua leveza, em seu cheiro de
novidade, sem rugas, sem manchas, sem dobras, excelente para o comércio e
para a troca. Já o abri com cuidado uma vez ou outra, para ver se ainda
tinha cheiro, para ver se já não tinha traças, porém não me interessei
pela sua sinopse, nunca me atrevi a avançar da primeira página, aonde
está a sua dedicatória de três linhas, três linhas e ali jaz para mim o
romance inteiro.
Fantasio com uma leitura repleta de metáforas e mensagens encriptadas que você talvez gostaria que eu desvendasse, sonho com um livro fluido e empolgante
que vou recomendar para os amigos e, depois, vou delirar de ciúmes pelo
entusiasmo dos amigos, imaginando que, enquanto lêem, eles também
estarão pensando em você.
As páginas do nosso livro não têm
marcas de dedos, nem dos meus dedos e nem dos seus dedos, as palavras
dos nosso livro não formam frases, formam lembranças distantes, daquelas
lembranças que lembramos com carinho por não sabermos mais como
realmente aconteceram, apenas queremos que sejam boas, apenas queremos
que tenham existido de verdade, os parágrafos do nosso livro não têm
pontuação, são sentidos pelo ritmo da leitura (ou da não-leitura), são
feitos de mudanças e de vazios, e os vazios nunca são feitos para serem
lidos - ou seriam os vazios as partes mais importantes da leitura?
O
nosso amor está, sim, naquele livro fechado e aderido à prateleira que
você me deu sem também ter lido. No início me pareceu um desperdício, um
desserviço do amor para com a arte, uma pobreza ter um livro para nunca
tocá-lo, uma afronta guardar palavras, esconder palavras, manter folhas
e mais folhas de palavras em cativeiro. Não obstante, o livro manteve
seu papel lúdico e, no seu silêncio, não destruiu nenhuma das nossas
ilusões, nem as minhas ilusões e nem as suas ilusões, nosso livro parece
mais livro enquanto continua fechado, pois acredito que, assim como eu,
você tem medo de abri-lo e não gostar da história, e devo dizer que uma
ilusão sempre vale mais do que uma leitura.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirO mundo é uma biblioteca...
ResponderExcluirAdorei.
♥
amey conhecer o seu cantinhoo.. passa la no meu tbm? se gostar e quiser me seguir eu sigo de volta.. Bjiinhos linda
ResponderExcluirhttp://bonekkinhaa.blogspot.com.br/