quinta-feira, 3 de setembro de 2015

12 de junho

Naquele dia pensamos em pular do vigésimo segundo andar, fugir da pequena reunião de pessoas aglomeradas no apartamento e sentar na beira da piscina de mãos dadas com os pés encostando na água. As luzes lá embaixo nos convidavam a escapar do murmúrio constante de assuntos irrelevantes e passar a noite planejando o próximo fim de semana, o próximo ano, a próxima vida, todas as vidas que passaríamos juntos contando um para o outro histórias ruins sobre nossos dias medíocres, histórias desnecessárias e fascinantes, naquele momento eu poderia ouvir, até pelo tempo que fosse uma eternidade, todas as futilidades que você quisesse me contar, poderia inventar personagens e castelos e gnomos e fadas para o assunto nunca acabar.
Naquele instante eu poderia ter pulado, naquele exato momento em que você tirou meu brinco e colocou na sua orelha, naquele segundo arrastado em que eu segurei sua mão e mentalmente te fiz prometer que pularia comigo vinte e dois andares abaixo onde aquela noite não acabaria, te fiz prometer que não me soltaria durante a queda e nem durante o tédio que eventualmente poderia instalar-se entre nós; te pedi tanta coisa em silêncio e, contudo, continuamos ali, paralisados, ora nos olhando nos olhos, ora encarando o chão distante, não nos prometemos nada, não esgotamos todos os assuntos possíveis, perdemos a oportunidade de cair em uma dimensão exclusivamente nossa, perdemos a chance de sermos nós.
Hoje talvez você mal se lembre daquele momento em que poderíamos ter pulado, mas, dentro de mim, estou desde então te esperando lá embaixo.