terça-feira, 12 de maio de 2015

Impressionismo

Olhando daqui de longe, o Cristo Redentor parece apenas uma antena de rádio, tão cinza e pequeno e perdido no meio da montanha.
Não uso óculos para corrigir minha miopia, gosto da cidade borrada e fora de foco, gosto dos rostos irreconhecíveis me sorrindo à distância e de ir descobrindo cada traço conforme vou me aproximando. O dia, para mim, é uma mistura de cores e de formas, nada nunca está alinhado com nada, as pessoas são de aquarela e a paisagem está sempre em contínua transformação, da vanguarda pós-moderna ao conservadorismo cristão.
Às seis horas da tarde, quando são ligados os postes da rua, as luzes perdem os seus limites e vejo apenas imensas bolotas laranjas flutuando sobre os borrões apressados que passam de um lado para o outro. Não me importo em conhecer nada em detalhes, não me interesso por simetria ou organização, o caos me é absolutamente encantador.
Você, entretanto, destoa de todo o resto, estragando minha vida em Monet com sua perfeita nitidez, fecho os olhos e te resgato diariamente do meu pequeno museu impressionista ao qual você obviamente não pertence; mas, por sorte ou ironia do destino, lá é onde você reside.

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