sexta-feira, 27 de junho de 2014

A gente esquece

A gente esquece. A gente esquece onde guardou as chaves, o que comeu ontem no almoço, o aniversário de um amigo próximo, o endereço de um amigo antigo, o telefone do primeiro apartamento em que morava, o que estava fazendo no dia onze de setembro, como era a vista da janela antes de construírem um prédio na frente, a cor dos olhos de alguém, o ano de um furacão ou tsunami, a gente esquece na gaveta a carta que nunca colocou no correio e o aparelho celular dentro do táxi, as fotos que não couberam em álbuns, as roupas que eram moda há dez anos atrás, a senha do cartão de crédito, o melhor verão da sua vida, o inverno mais frio, o gosto da comida do avião, a voz de alguém que já morreu, o caminho da escola, os filmes de suspense, as comédias românticas, as regras dos jogos de tabuleiro, a receita do bolo de cenoura, o ano das últimas eleições, as piadas das quais achava graça, os livros com citações grifadas, o gosto de um beijo, o cheiro de um perfume, as rimas de um poema, o porquê de ter se apaixonado, as fórmulas matemáticas, as letras de uma música, o nome de um conhecido, o preço do jornal de sempre, o rosto do motorista do ônibus parador. A gente esquece gente que a gente nunca achou que fosse esquecer e a gente esquece como é difícil esquecer um tanto de coisas que a gente quer esquecer. A gente simplesmente esquece e também esquece de esquecer.

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