terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Sugarfree

Aviso: estamos no meio de uma epidemia. Estão todos namorando. Avisem a segurança nacional, fechem os aeroportos, façam um estoque de doritos em casa e só saiam sob minha segunda ordem.
Nessa época do ano é que pode-se perceber melhor a dimensão que esse delírio conseguiu atingir. Sim, delírio, observem bem as vitrines das lojas e verão que estou certa. Para mim fica ainda mais evidente por um simples motivo: eu sou imune à essa doença. Pois é, pego qualquer gripezinha que vem com as mudanças de temperatura, mas quando se trata da pandemia que se alastrou mais rápido pelos 5 continentes eu, surpreendentemente, não mostro nem um sinal de abatimento.
Minha família ainda não conseguiu se acostumar com minha imunidade exagerada, para eles essa doença é bem válida. É como antigamente que os pais faziam as crianças pegarem catapora quando ainda eram bem pequenas pra não correrem riscos de adquirirem a forma mais grave da doença quando mais velhas, lembram? Eu fui criada numa infância onde era bom pegar catapora, do mesmo jeito que vivo numa juventude em que é bom pegar namoro.
Sim, seria ótimo sair dos holofotes dos almoços de família e não receber olhares de pena de gente mais encalhada que eu, mas, se eu conheço bem meu sistema imunológico, não vejo isso acontecendo num futuro próximo.
Eu só fico chateada pelo meu pai. Não, eu fico chateada por mim também, mas é que ele tinha tanto potencial de ciúmes para gastar comigo e eu não dei nem uma vez esse gostinho pra ele, sabe. Bom, claro que se ele soubesse da minha vida fora do mundo convencional dos relacionamentos ele talvez pudesse usar um pouco desse ciúme contido pra me impedir de sair com uma saia mais curta dia ou outro, mas não é o caso.
Quando eu era pequena ele falava muito sobre como ele só ia deixar eu namorar depois dos 18 anos, como quebraria os dentes de quem chegasse perto da garotinha dele e que não ia aguentar se eu aparecesse com um namorado enrolado no pescoço. Hoje em dia ele me pergunta quase que semanalmente se o amigo com quem vou ao cinema não é meu namorado, se eu pegaria um garoto esquisito que ele vê passando na rua ou porque eu não apresento meu "homem secreto" pra ele.
O que é chato, pois eu queria ter alguém de verdade pra apresentar pra ele só pra ele poder libertar todo o potencial de pai das cavernas que eu não deixei ele usar. É um desperdício de um pai em perfeitas boas condições para aterrorizar namorados (que pelo que vejo nos filmes é uma coisa ótima para agarrar marido). É uma pena, já que minha irmã, que atingiu a puberdade pelo menos 3 anos antes de mim, tem muito potencial para ser daquelas adolescentes que aparece cada dia com um garoto mais estranho em casa e não vai poder aproveitar um pai ciumento porque eu já estraguei ele todo.
Mas o que eu posso fazer né? Talvez essa minha resistência possa me trazer algum benefício no futuro, meu sangue pode conter a cura da AIDS sei lá, quem sabe. Daí pelo menos quando alguém me perguntar sobre minha vida amorosa nas reuniões de família eu posso dizer algo do tipo "eu fui a escolhida pra fracassar no amor em prol do bem de toda a humanidade, sou um jesus cristo dos tempos modernos, saiam por aí e criem uma religião em meu nome, não vão nem precisar mudar as letras A.C e D.C (porque meu nome é carolina né). E, afinal,quem precisa de casamento e filhos quando se tem o futuro da civilização em suas mãos, certo?" ou qualquer coisa assim que vai me colocar num patamar elevado ante meus primos que emendam namoro atrás de namoro e só fazem eu parecer mais patética, comendo minha torta alemã com colherzinha de café, todo dia das mães, todo natal, todo domingo (pois é, I'm a sucker por torta alemã).

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Sobre a chatice e o ato de dormir

Eu costumo reclamar muito sobre o quanto as pessoas me irritam, sobre como eu nunca vou conseguir manter um relacionamento, uma vez que todas as pessoas que eu conheço acabam, uma hora ou outra, me cansando (e não do jeito bom). Antes de imaginar como vai ser meu casamento (que casamento?) eu já quero procurar o telefone de advogados para cuidar do meu divórcio. Eu tenho certeza que pra mim não vai ter essa coisa de feliz para sempre, simplesmente por um único motivo: as pessoas são todas muito chatas. Sim, todas.
Mas peraí, eu sou uma pessoa e eu não sou chata. Todas as minhas piadas são muito engraçadas e qualquer um teria a sorte de morar no meu corpo e passar todas as horas de todos os dias dentro da minha cabeça, certo? Ahn, mais ou menos. Eu realmente não me acho tão chata, afinal são 19 anos de convivência e, apesar de minhas disparidades comigo mesma, consigo me achar agradável durante a maior parte do tempo. Mas sim, eu sou chata. E muito. Assim como todo mundo.
Acho que existe algum mecanismo de defesa no ser humano que impede que ele perceba a própria chatice, de forma que ele possa viver anos e anos sendo aquela pessoa que pergunta se é "pavê ou pacomê" sem se incomodar com isso da mesma forma que se incomodaria se essa frase saísse da boca de outro ser de luz, que se acha engraçadíssimo, assim como ele. Porém, existe uma falha nesse sistema. Sim, se você parar para se escutar, naquele momento logo antes de dormir, vai conseguir perceber o quão insuportavelmente entediante e piegas você consegue ser.
Por exemplo, esses dias ando tendo aquelas insônias de ficar horas rolando na cama sem conseguir mergulhar no estado de espírito elevado que tanto me agrada. Foi quando parei para ouvir pela primeira vez as vozes dentro da minha cabeça se manifestando, que entendi como é difícil achar uma pessoa legal no mundo, principalmente porque eu não sou uma delas.
(flashback para a cena de carolina -eu- tentando dormir)
(... alguns minutos de silêncio ...) "eu gosto de uvas" "faz tempo que não como uvas" "hum... foi um bom restaurante que fui no fim de semana né" "a salada tava muito boa" "preciso comer mais salada" "amanhã vou no supermercado e compro coisas pra fazer salada" "não vou ficar gastando dinheiro quando posso fazer uma coisa tão fácil dessas em casa" "♫ I like big butts and I cannot lie ♪" "não ok, vamos dormir agora, você tem que acordar cedo amanhã" (silêncio) "ai droga acho que deixei dinheiro dentro da minha calça jeans" "se for uma nota de 2 reais eu não me importo, mas se for uma de 20 eu quero pegar agora" "não, deixa, amanhã eu pego, é só eu não me esquecer" "dinheiro na calça, dinheiro na calça, dinheiro na calça, dinheiro na calça" "ah não, agora acho que tenho que fazer xixi" "bom se eu levantar pra fazer xixi melhor pegar logo o dinheiro na calça" "não, eu não posso estar com vontade, acabei de ir no banheiro" "nossa se eu acordar no meio da noite com vontade de fazer xixi vou ficar muito puta" "♪ you other brothers can't deny ♫" (e continua por mais algumas horas).
Não sei se fui clara o bastante. Se quando eu era pequena meus pais cantavam música pra me fazer dormir, hoje em dia eu me encarrego de entediar a mim mesma até não aguentar mais e ser obrigada a dormir. E, se uma pessoa consegue ser tão chata a ponto de fazer a si própria dormir, eu não sei quem eles estão tentando enganar com esse papo de paz mundial. Afinal, guerras só acontecem porque as pessoas não se aguentam mais e querem matar umas às outras, certo?
Aliás, com tantos problemas no mundo eles preferiram erradicar a varíola do que a chatice, né? Esse pessoal do governo não tem a menor noção de prioridades mesmo.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Serendipity (quer dizer, seria, se fosse verdade)

Hoje me flagrei num momento ridículo. Era um momento só meu, eu não precisava ficar com vergonha, afinal ninguém estava vendo, mas às vezes isso acontece. Às vezes me surpreendo fazendo algo tão patético que sinto como se minha alma tivesse se desprendido do meu corpo e ficasse me observando de fora, apenas zombando de tudo que eu penso como se eu estivesse dizendo todas aquelas coisas em voz alta diante de uma grande platéia que confunde minha tragédia grega com um show de stand-up comedy.
Bom, enfim, lá estava eu no ônibus, ouvindo música, toda largada nas poltronas confortáveis (ônibus do condomínio, porque gosto de pagar de emergente da zona sul pela cidade), tentando encaixar a música certa aos cenários que iam passando, quando, ao meu lado, parou um ônibus comum, estava trânsito e era hora do rush, então tinham várias pessoas em pé no ônibus, obviamente. Fiquei olhando, pensando em como aquelas pessoas deviam estar me invejando naquele momento, querendo um pouco do meu ar-condicionado que embaçava as janelas, quando, de repente, cruzei olhares com um cara lindo parado ali de frente pra mim, segurando na barra do alto do ônibus (acho que todo homem - lindo - que segura na barra do alto do ônibus devia figurar num calendário de bombeiro ou coisa do tipo, porque é simplesmente o melhor ângulo para os bíceps e tríceps que existe) que, para surpresa geral, parecia estar me encarando também.
Me ajeitei na poltrona sem graça e fingi estar trocando de músicas no iPod enquanto via o ônibus do lado se movendo com o canto do olho, sem direcionar outro olhar para o lindo homem bombeiro. Nossa, uma troca de olhares? Foi isso que me deixou tão constrangida? Meu deus, grow up! Infelizmente não, não foi por isso. Ai, como eu queria terminar a história aqui e poupar a Carolina flutuante do constrangimento, mas não, depois que o ônibus saiu do meu campo de visão que começou a parte triste da cena.
Não sei se foi porque eu estava com um vídeo que andei vendo recentemente na cabeça, ou talvez seja mesmo porque chega um ponto em que a solteirice se entranha no seu ser de tal forma que começa a danificar neurônios e provocar pequenos blecautes na área do bom-senso durante o dia. Só sei que quando vi estava revirando minha bolsa à procura de uma caneta pra escrever meu telefone na mão e mostrar pro cara lindo do outro ônibus. "Ai meu deus tem que ser tinta preta senão ele não vai enxergar" "Será que não é melhor eu escrever o telefone na janela?" "Tenho um marca-texto, acho que se eu escrever na janela ele vai me achar mais interessante" (pausa pra testar o marca-texto rosa na janela) "Droga, não pega direito, vai ter que ser na mão e de caneta mesmo" "Se bem que na mão é capaz de ele não enxergar, melhor escrever no braço todo" "Ih, mas o ônibus tá cheio, ele não vai ter onde anotar" "Ah, enfim, é bom que ele seja bom em memorizar coisas" "Será que outra pessoa não vai olhar e anotar meu telefone também?" "Ah droga tomara que ele tenha uma caneta pra me mandar o telefone dele também" (desligo a música pra focar no meu objetivo) "Vou só deixar a caneta aqui na parte de fora da bolsa pra ele não achar que eu já estava pensando nisso, né?" "Ok, agora faz cara de quem não está desesperada". E, nesse tempo todo a Carolina flutuante estava ali me olhando, observando meu diálogo interno como quem assiste às videocassetadas (uma coisa de achar graça ao mesmo tempo que se sente mal por estar assistindo faustão ao invés de estar por aí vivendo ou fazendo sei lá o que que as pessoas costumam fazer domingo à tarde).
E sabem o que aconteceu? Nada. Eu não estava procurando a caneta porque alguém deu a entender que queria meu telefone nem nada, eu estava procurando a caneta porque, na minha cabeça, aquela era a sequência lógica de acontecimentos. Aquela paranóia de sempre de que meu tão estimado conto de fadas do transporte coletivo está prestes a se tornar realidade. Mas é sempre tudo na minha cabeça. O outro ônibus nunca mais passou do lado do meu, minha caneta está até agora na parte da frente da minha bolsa e aquele cara do calendário de bombeiro provavelmente não era o meu Mr Right, ou até era, Mr Right on the wrong bus.
O pior não é nem ter que conviver com a vergonha alheia de mim mesma, já estou acostumada com esse meu subconsciente petulante opinando sobre tudo o tempo inteiro, o problema mesmo é que esse não é um episódio isolado. Eu vivo por aí esperando um desses encontros repentinos com o homem perfeito, caçando pequenos momentos que eu possa descrever depois como memoráveis, sonhando que vagões de metrô, bancos de ônibus e filas de banco estão repletas de potenciais Mr Right só esperando o olhar certo para fazer um movimento que vai mudar nossas vidas para sempre. Esperando a hora de apertar o REC cerebral pra não deixar de contar nem um detalhe quando meus filhos perguntarem como conheci o pai deles (mesmo que ele venha a seguir o curso natural de todas os meus relacionamentos e se torne um babaca depois).
Acho que já não consigo mais enxergar a linha tênue que separa uma pessoa sonhadora e idealista de uma pessoa fracassada e patética sem a menor noção da realidade, né?.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Quem nasce pra ser medalha de honra ao mérito jamais será estatueta do oscar

Péssimas idéias brotam na minha cabeça num fluxo incrível. Meu analista fala que eu não devo ficar me prendendo à coisas do passado pra justificar as besteiras que eu faço no presente, mas eu não consigo deixar de achar que tudo isso começou quando eu era pequena e resolvi que não ficava bonita de franja e resolvi pegar a tesoura e cortar ela bem na raiz pra fazer ela sumir. Foi toda uma temporada passando gel pro cabelo parar de ficar em pé na frente e vendo as pessoas se assustarem ao descobrir o real tamanho da minha testa. Não aprendi nada com a experiência e assim que a franja voltou a um comprimento aceitável fui lá e cortei de novo, apenas pra minha mãe ter certeza de que havia errado na minha criação.
Pois é, depois disso foi uma sucessão de infortúnios acontecendo na minha vida. Azar? Planetas desalinhados? Número de cromossomos errado? Não, apenas péssimas decisões da minha parte.
O problema é que a maioria dessas idéias horríveis chegam na minha cabeça como se fossem algo digno de um prêmio Nobel. Me sinto Isaac Newton embaixo da árvore levando uma maçã na cabeça a cada pensamento repentino. Só que no meu caso eu só fico com o galo na cabeça, nada de descobrir a gravidade.
A mais recente foi: passar auto-bronzeador. Claro, é verão, todo mundo anda pelas ruas ostentando um bronzeado saudável e ornando pele descascada e eu não posso ir à praia por causa do meu pé quebrado (não que eu seja uma pessoa que frequenta praia, mas é que na atual conjuntura eu estou adotando o pensamento do "nem se eu quisesse") então a coisa lógica se fazer é: ficar bronzeada também, certo? Errado.
Quer dizer, estaria certo se: 1. o auto-bronzeador, de fato, deixasse a pele do ser humano bronzeada marrom em vez de bronzeada laranja e 2. eu soubesse aplicar hidratantes uniformemente.
Não sei se preciso descrever o reflexo do espelho com o qual estou sendo obrigada a conviver, mas se eu fosse obrigada diria que é algo como um simpson que deu errado. Ah, agora não só tenho que ouvir o quanto estou branca doente como também tenho que morrer de calor nesse rio de janeiro usando calças compridas para esconder minhas pernas saídas diretamente de springfield.
Sinto dizer, mas acho que estou cada vez mais longe do meu Nobel.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Não tem mais natal nem na leader magazine

Papai noel,
talvez esteja meio em cima da hora pra eu estar te escrevendo essa cartinha, mas eu só quero avisar que você não precisa vir esse ano não. Não que você tenha se importado em aparecer nos últimos anos, mas esse ano, a não ser que você se transforme em um gênio da lâmpada e tenha três desejos pra me conceder, ou tenha alguns truques de mágica pra fazer na noite de natal e deixar o jantar em família um pouco menos insuportável, pode pular minha casa.
Desculpa ser assim tão direta mas é que olha, pra começar, é muito chato que todo mundo fica insistindo pra eu não acreditar no senhor e, quer saber? Estou quase indo na onda dessas pessoas. Pois é, você não anda fazendo por onde. Nos últimos natais nem sinal do pônei que eu pedi. Mas tudo bem, sem ressentimentos, minha mãe também não ia gostar muito de um pônei cagando a casa inteira e ia acabar sendo ela que ia ter que levá-lo pra passear todo dia, acho até bom você não ter trazido ele.
Aliás, não que isso tenha muito a ver, mas eu vi uns papais noéis no shopping esses dias que, olha, só decepção, não sei como você permite umas pessoas tão fajutas se passarem por você (claro que eu sei que aqueles papais noéis são falsos, se bobear eles nem gordos de verdade são), eu acho que uma pessoa do seu nível podia ter um critério de seleção mais sofisticado em relação às pessoas que vão te representar, mas enfim, quem sou eu pra julgar?
Mas tá, o que me incomoda nem são os papais noéis do shopping. Já faz um tempo que as pessoas começaram a me olhar esquisito por querer sentar no colo de um velho barbudo (e, provavelmente, tarado) pra tirar uma foto, então eu nem passo perto. O problema é que tá tudo errado, papai noel. Tudo errado.
O natal já não tem mais aquela magia que tinha antigamente quando eu era criança. Pode parecer até meio esquisito pra você me vendo falar de magia, logo eu que costumo ser tão cética, mas é que me chateia que ninguém mais se importa em dar presentes só pra ver alguém que gosta feliz, se você esquecer de comprar um presente pra dar em troca acabam-se os sorrisos. E eu não trabalho né, papai noel? Tenho que racionar meu dinheiro e roupas pra mim são prioridades no momento, com a falta de namorado e tudo o mais.
E estou falando isso mas acho que o natal lá em casa não tem mais salvação não. A nova leva de crianças parece que já nasceu não acreditando no senhor. Só acreditam naquela vadiazinha da fada dos dentes porque ela dá dinheiro pra eles. Crianças interesseiras, não é mesmo? Não tem mais ninguém que fica embaixo da mesa da sala cantando músicas de natal (essa era eu). As pessoas só fazem um amigo oculto sem graça, passam algumas horas esganiçando a voz pra falar com meus priminhos, tiram umas fotos pra parecer que a família se encontra todo fim de semana e não só uma vez por ano (o que eu meio que agradeço por não ser verdade), fazem tantas perguntas quanto necessárias pra me deixar desconfortável (já que eu sou sempre a com menos conquistas pra compartilhar, como o senhor bem sabe) e depois, quando eu pergunto por você, SABE O QUE ELES ME RESPONDEM??? "Os presentes tão ali embaixo da árvore". Quer dizer, eles não deviam pelo menos inventar uma desculpa pra explicar sua ausência?? Não deviam tentar me mostrar um dirigível no céu pra fingir que é o seu trenó?? Enfim, por isso resolvi te dar um passe livre pra você não passar lá em casa esse ano. Ninguém sente muito a sua falta além de mim. Se me arrisco dizer, ninguém nem lembra que um dia você já passou alguns natais com a gente. Mas eu prometo que não vou ficar chateada. Juro mesmo. Acho que já estou grandinha pra entender que algumas coisas nunca voltam a ser as mesmas e que você tem suas prioridades né?
Beijos, Carol
P.s.: Se você por acaso esbarrar com minha fada madrinha em uma de suas viagens pede pra ela me procurar por favor que ando precisando conversar muito a sério com ela. Ela é outra que vem pisando feio na bola comigo.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Biologia dos relacionamentos for dummies - parte II

No outro post eu tinha começado a falar da menina HIV, mas achei que ia ficar muito grande desenvolver essa analogia por lá e resolvi fazer uma segunda parte aqui para vocês amgs que estão com muita saudade de ouvir palavras como ~transcriptase reversa~ nas suas férias monótonas (sei que estão monótonas, porque não é possível que só eu esteja inválida na minha cama por semanas e o resto do mundo inteiro esteja numa rave para a qual eu não fui convidada).
Bom, então vamos lá. Existem tanto homens quanto mulheres do tipo HIV, mas como no post passado falei do homem-macrófago, esse aqui vou limitar a história para a menina-HIV.
Como todos sabe, o HIV é um retrovírus, daqueles que tem RNA e dai quando entra na célula chega uma enzima bem louca e transforma esse RNA em DNA pra depois transformar em RNA de novo (enzima meio burra essa também né). Como ele é um retrovírus a menina HIV se veste com umas roupas dos anos 70 né, cabelão, óculos escuros, calças santropeito e uns 100g de maconha no bolso (pior piada de todos os tempos ou pior piada de todos os tempos?).
Não, ok, a menina HIV é mais como se fosse aquela menina que é bonita, sabe que é bonita, mas finge ter baixa auto-estima para os outros dizerem o quanto ela é bonita o tempo todo. Você pode achar que esse é todo o tipo de mulher, mas na verdade não é. A menina precisa ser bonita e se achar bonita para ser uma HIV. Não adianta ser feia e se achar bonita e fingir que se acha feia, e também não adianta ser bonita e se achar feia de verdade. Auto-confiança, beleza e falsidade são as palavras-chave de uma verdadeira HIV.
Enfim, a menina HIV é aquela que primeiro destrói o macrófago. Como eu já expliquei no outro post, o homem-macrófago é normalmente o que destrói corações, mas no caso da menina HIV ele simplesmente não consegue. Ela é muito esperta e se camufla de menina complexada, faz o macrófago se apaixonar e daí tapa na cara do macrófago, quando ele percebe já ocorreu um pane no seu sistema e ele está se perguntando quem o desconfigurou ---> Pitty sabe descrever a lise celular como ninguém.
A menina HIV tem sérias tendências sociopatas, e, se você já viu o seriado Dexter, sabe que todo bom sociopata sabe bem como se camuflar para viver em sociedade. Ela destrói o coração dos macrófagos e depois segue rumo ao seu alvo principal: os linfócitos TCD4+.
Olha, dá até pena falar dos linfócitos TCD4+ nesse contexto porque eles são muito gente boa, não mereciam cair nas garras da menina HIV. Eles são aquele tipo de cara que você se apaixona logo de cara. Se nós vivêssemos num filme em preto e branco ele seria o tipo de homem que tira a blusa e coloca por cima de uma poça de lama pra você passar por cima e não se sujar. E, exatamente por esse seu espírito bom samaritano de querer ajudar e defender tudo e todos que a menina HIV vai direto nele. Por mim ela podia se limitar a partir o coração somente dos macrófagos, porque às vezes eles bem que merecem, ou até mesmo dos linfócitos TCD8+ que são uns encostados nos TCD4+ e nunca fazem nada original. Mas tudo bem, é difícil mesmo entender como funciona a mente de um psicopata.
Então, a menina HIV vai lá com sua conversa mole, se fazendo de vulnerável e o linfócito TCD4+ quer logo ver o que está acontecendo. Ele normalmente tentaria defender o corpo de uma célula tão esquisita, cheia de glicoproteínas por todos os lados, mas ele deve pensar que ela parece tão vulnerável que não pode fazer mal à ninguém né? Daí pronto, quando ele vai olhar tem música da Pitty lá tocando no rádio de novo.
A partir dai tudo acontece muito rápido, depois que a menina HIV conquistou o coração dos linfócitos TCD4+, e eles estão completamente impotentes diante de seus encantos, é aí que começa a AIDS.
A AIDS é como se fosse a quebra do sistema, é como se a menina HIV tivesse sido eleita prom queen por unanimidade de todos os linfócitos presentes e depois, visse o balde de sangue de porco em cima da sua cabeça (porque os linfócitos perceberam que tinha alguma coisa errada com aquela menina e queriam sacanear ela) e resolvesse começar a matar todo mundo.
Daí pronto, matou todo mundo não tem nem mais o que dizer né?
AIDS é como um filme do Tarantino que não precisa de história, só de sangue e carnificina e daí também não precisa de final porque o filme precisa terminar por falta de atores né. Aliás, nessa parte que começa a rolar os créditos que Cazuza, Renato Russo & cia viraram ídolos nacionais.
Então, rapazes, cuidado com as meninas HIV, porque assim, apesar de todos os antiretrovirais que podem impedir o episódio da festa de formatura, uma hora essa menina pode ficar louca e aí você não vai querer estar por perto. Ainda mais que agora as chances de você virar um ídolo nacional são bem maiores se você fizer um vídeo babaca na internet e se vestir com umas roupas coloridas escrotas do que se você morrer de AIDS. Saudades desses tempos de outrora, né?

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Biologia dos relacionamentos for dummies

Um comentário aqui no blog me abriu os olhos para todos os anos que passei desenhando células gigantes no caderno e escutando a fascinante vida das mitocôndrias, que eu estou simplesmente jogando fora ao deixar pra trás o ciclo básico da faculdade de medicina e ingressar numa parte cliníca (que eu espero que seja bem mais sangrenta). Esse conhecimento pode ser reaproveitado sim, porém, como eu nunca fui uma aluna perfeita não vou me meter a dar aula de biologia pra ninguém, vou apenas aplicar alguns conceitos perdidos por ai à vida social, porque, acreditem meus caros leitores, a biologia está infestada de material para piadocas e trocadilhos incríveis. As pessoas só precisam freiar essa aversão ao conhecimento que ai as piadas nerds poderão fluir livremente.
Hoje o negócio vai ser sobre os macrófagos. Escolhi os macrófagos não só porque acho que o dia-a-dia deles deve ser muito emocionante, mas porque é uma das células para a qual eu tenho uma analogia com o ser humano ---> o homem-macrófago.
O homem-macrófago à primeira vista é um sujeito muito pacato, assim como os monócitos, que são as células precursoras dos macrófagos, que circulam no sangue tranquilonas, sem maturidade pra sequer pensar em atacar alguém, quer dizer, uma bactéria. O homem-macrófago é aquele que te pega com um papo leve, que te conta umas histórias bobas, que te oferece um lugar no ônibus, que você diz que nunca pegaria e quando vê lá está ele te dando oi no msn.
Quando uma bactéria ou um vírus invadem o organismo, ou quando uma menina nova na área chega no aposento, os anticorpos vão lá correndo se ligar à elas, anticorpos são como se fossem aqueles homens-arroz, não deixam a mulher respirar, estão por toda a parte, e são eles que mostram pro macrófago a célula que ele tem que atacar. O macrófago é aquele cara que vai playing it cool o tempo todo, deixa os anticorpos cansarem a presa, deixa eles sinalizarem a carne fresca e ai quando a mulher já está toda opsonizada é a hora do macrófago agir.
A opsonização é fundamental pro macrófago conseguir atuar. Vejam bem, ele ainda está no sangue, sob a forma de monócito, todo imaturo, todo bobão. Mas quando os anticorpos chegam ele já fica em alerta, começa a se direcionar pro tecido e depois tem a cascata do complexo do complemento. Magrófago é especialista em detectar mulher complexada, cheia de C3b pelo corpo (C3b é uma opsonina muito semelhante ao que nós, leigos, chamamos de ~ daddy issues). Essa combinação de anticorpos (homens-arroz) + C3b (daddy issues) é como se fosse uma placa neon piscando na cabeça da bactéria (da menina) dizendo: "HELLO MACRÓFAGO, COME AND GET ME!"
Bom, então tá lá, o monócito doidão no sangue indo em direção à bactéria opsonizada. Na vida real isso seria, o cara doidão depois de várias horas gastas no msn indo em direção a uma bimbada certa.
Às vezes é difícil pro monócito penetrar o tecido por causa dos capilares estreitos porque muitas vezes a menina dá uma dificultada, fala que só vê ele como amigo e tal, dai isso é o que chamam de diapedese, que ele vai entrando de pouquinho em pouquinho, se espremendo ali pelos cantinhos até que quando você vê o macrófago tá ali, com uma maturidade que você nunca viu antes, abrindo portas e tudo, e aí sim ele se transforma em um macrófago de verdade, aquilo antes era brincadeira de criança que qualquer neutrófilozinho besta podia fazer também. Agora o macrófago não brinca mais, é hora de começar a fagocitose e ele já está com tudo planejado.
Como o faro do senhor macrófago já o levou à menina com daddy issues fica muito fácil se prender à ela. Por mais que ela diga que não, ela quer carinho, ela quer toda aquela atenção, ela quer sms melosa quando acorda de manhã, e o macrófago pode oferecer isso.
Quando a menina percebe o que está acontecendo, ela já está envolvida pelos pseudópodos daquele macrófago charmoso, todinha dentro dele (literally speaking tanto pra vida real quanto pro universo celular), naquela dependência gostosa sem nem saber de onde veio o caminhão que a fagocitou.
Porém o que a menina não sabe quando se envolve com o macrófago é que ele tem um complexo de golgi muito desenvolvido. E olha, se eu posso te dar um conselho é esse: FUJA DE HOMENS COM COMPLEXO DE GOLGI. É o pior complexo que um homem pode ter. Ele digere cada pedacinho daquela menina. Não sobra nada, se bobear ele é daqueles que nem deleta do msn só pra ela ver a janelinha dele subindo toda vez e lembrar da agonia da digestão.
E esse complexo de golgi não induz os macrófagos a destruir só a pobre menina não, ele mutila toda e qualquer outra que estiver ao alcançe dos seus pseudópodos. Não importa se é sua amiga ou não. Ele não quer nem saber, o macrófago maduro só quer saber de fagocitar as many as possible.
É preciso ficar ligada nos macrófagos ainda na fase imatura, dar um jeito de enganar eles, se fingir de bem resolvida, igual o vírus HIV (olha como todo dia é dia de aids). Só as meninas estilo vírus HIV conseguem escapar ilesas dos charmes do macrófago. Porque elas até deixam os anticorpos chegarem, até curtem uma fagocitada gostosa, mas depois elas tem proteínas semelhantes ao corpo humano que o macrófago não destrói com medo de destruir uma parte do corpo, são as poucas meninas que fazem todos se apaixonarem por ela, inclusive os macrófagos que parecem tão duros na queda, e daí essa menina que é um perigo não só para os macrófagos que passam a ser vítimas, mas também para os linfócitos que caem na história de menina indefesa que ela conta. Mas essa já é uma outra história.
O meu aviso é só pra ficarem ligadas nos rapazes macrófago, porque eles estão por toda a parte. Eu só sugiro experimentar uma fagocitada dos macrófagos se você for uma HIV, porque eu dei uma olhada aqui num livro de biologia e tá dizendo que quando os monócitos amadurecem eles podem aumentar seu diâmetro em até 5 vezes ---> 5 VEZES <--- quer dizer, é algo que vale a pena conferir pessoalmente, né? E mesmo que você não seja HIV e caia nos pseudópodos do macrófago, eu sugiro aproveitar porque não é todo dia que se encontra uma coisa dessas, vai ser possivelmente o coração partido mais agradável que você já teve.