terça-feira, 30 de novembro de 2010

O manual que você menos vai precisar na sua vida bem aqui

Outro dia vi num blog por aí uma pessoa dissertando sobre 9 coisas que os outros deveriam saber sobre ela. A primeira coisa que eu pensei foi: "nossa, mas é nunca que eu iria conseguir pensar nove, eu disse NOVE, coisas interessantes o suficiente sobre mim, pelo menos não algo que alguém tenha vontade de ler né". Pensei também que essa pessoa devia ser um tanto bem resolvida para escrever praticamente um manual a seu respeito achando que os outros iriam querer abri-lo e testá-lo. Nem sei se foi esse o objetivo, nem sei se ela era tão bem resolvida assim, olha eu com essa minha mania chata de julgar as pessoas sem saber. Eu, na verdade, não cheguei nem a ler as 9 coisas que ela achou válido compartilhar sobre ela mesma com o mundo.
Acho que por não saber o que ela tinha escrito sobre si, por não saber se as coisas que ela tinha achado interessantes sobre ela mesma seriam interessantes para mim também ou sei lá por qual motivo senão minha simples curiosidade pra ver se eu conseguia pensar em nove coisas interessantes sobre mim, resolvi fazer minha própria lista de curiosidades a meu respeito (how pathetic am I?). E não to nem ai, eu podia estar fazendo testes no facebook pra descobrir que princesa da disney eu sou, podia estar protestando pelas minhas moedas verdes no youtube, mas não, estou aqui humildemente revelando segredos para desconhecidos que é algo muito mais saudável, então vamos lá:
1. Eu tenho uma dificuldade horrível de dizer "eu te amo". Foram poucas as pessoas que já escutaram essas palavras saindo da minha boca. Escrever é outra história, sou bem menos pudica com meus sentimentos quando eles são escritos, mas quando são falados eles parecem muito mais reais, muito mais meus e eu não sei lidar com isso. Então as pessoas só vão ouvir um "eu te amo" meu se for muito verdade, se eu precisar muito dizê-lo.
2. Eu odeio mamão. Acho que não devia nem ser considerado fruta. Frutas são pra serem leves e doces e com gosto de infância, mamão só me lembra as épocas em que minha peristalse não era lá essas coisas e eu tinha que me entupir de mamão até quando estava SENTADA NO PENIQUINHO (wall of shame) e ninguém constrói memórias agradáveis sentada num penico com cara de fusca né. Pois é, e além disso ainda tem a consistência, o gosto, aquelas sementes todas, que em nada ajudam a causa do mamão.
3. Eu não gosto do meu aniversário. Com isso não quis dizer que não gosto de ganhar presentes, eu adoro ganhar presentes. Eu só não gosto de pessoas se sentindo na obrigação de me dar parabéns sem eu nem ao menos ter feito alguma coisa digna de merecê-los. Não gosto de comemorar algo que eu não sinto necessidade só porque é uma convenção social (mas eu faço porque sou boba e preciso me sentir IN nas coisas). Eu não fico chateada se esquecem de me dar parabéns, eu na maioria das vezes prefereria até ficar em casa e esperar chegar o dia seguinte quando vai ser só mais um dia qualquer, mas nunca sou permitida a fazer isso.
4. Toda vez que eu passo por um espelho e não tem ninguém por perto eu levanto a blusa pra ver se minha barriga ainda está lá. Ok, você acabou de concluir que eu sou uma idiota, e eu devo ser mesmo, mas sei lá, vai que minha barriga mudou desde a última vez que eu a vi, vai que ela sumiu (o que seria uma boa) ou que ela ficou igual a daquelas pesssoas depois de fazerem uma cirurgia de estômago, toda cheia de pelancas. Não sei, eu preciso saber que ela está ali, e não adianta só colocar a mão, eu preciso olhar no espelho.
5. Eu não entendo nada de política. Eu até tento. Juro que tento. Tento absorver ao máximo o que os taxistas falam e comparar com o que eu ouço em casa de meus pais exaltados durante o jornal nacional. Tento falar de fulaninho que eu conheci que fez sei lá o que na política quando alguém começa o assunto. Eu acho até que sou convincente, mas isso se deve mais ao meu talento de mentir do que ao meu conhecimento sobre o assunto. É horrível, mas eu simplesmente não me interesso e, a não ser que eu me apaixone por alguém muito engajado na política, eu vou continuar na minha ignorância gostosa.
6. Eu fico nervosa quando uso perfumes e quando pinto as unhas. Pois é, eu gosto do cheiro dos perfumes, eu me apaixono pelas cores dos esmaltes, até sei os nomes de algumas das cores, mas quando o negócio é colocar em mim eu fico um pouco tensa. Não consigo olhar minhas unhas vermelhas, ou de qualquer outra cor, sem achá-las um pouco alienígenas, e não consigo sentir aquele cheiro de perfume vindo de mim o dia inteiro sem me sentir enjoada. O estranho é que, mesmo assim, eu compro perfumes, compro esmaltes, poderia se dizer até que tenho uma coleção de ambos. Quem olha minha bancada do banheiro até pensa que faço manicure toda semana e ando por aí cada dia com um cheiro diferente. Mas não, são sempre as mesmas unhas cor de unha, sempre o mesmo cheiro de shampoo e sabonete e eu sempre me justificando que faltou tempo, que não consegui ir no salão naquela semana, simplesmente não consigo admitir isso das unhas alienígenas pras minhas amigas sem cutículas.
7. Gosto de ler praticamente todos os tipos de livros, mas meu livro preferido é um livro de terror (um terror meio suspense, meio misturado com religião, uma história que eu nem sei explicar ---> aliás, outra coisa que não sei é resumir histórias de filmes e livros). E eu sempre tento convencer as pessoas a lerem esse livro. Sempre. Se, algum dia, você virar pra mim e disser que gosta de ler, eu vou te encher o saco até você fazer o favor de comprar e ler esse livro até o final.
8. Falando de livros, eu morro de ciúmes das minhas coisas, tem uns objetos específicos que eu odeio ver as outras pessoas usando, e se tem uma coisa que eu realmente odeio emprestar é livro. Primeiro porque tenho medo da pessoa nunca me devolver (o que quase sempre acontece), depois porque fico muito nervosa da pessoa usar a aba solta que vem no livro pra marcar a página que ela está lendo. Daí eu peço pra pessoa não usar e ela vem e fala "mas essa aba solta foi feita pra isso" e eu só pareço maluca quando digo "MARCADOR DE LIVRO TAMBÉM FOI FEITO PRA ISSO, BITCH", e dai, como eu sou a maluca, meus livros sempre voltam (quando voltam) pra mim esgaçados e meio tortos e é horrível porque com a aba destruída eu meio que perco a vontade de lê-los de novo.
9. Eu amo balas. Desde que eu me entendo por gente eu fui uma criança assídua no dentista baleiro. Eu não tenho controle sobre a quantidade de balas que eu como, nem balas nem chicletes. Chicletes tem o problema de comer enfiando vários na boca de uma vez só, até ficar tão grande que não dá pra mastigar (mas isso só faço sozinha, porque se faço em público eu começo meio que a babar demais e as pessoas começam a sair de perto falando "que nojo" e eu não curto) e balas é uma atrás da outra até acabar, obviamente. Eu gasto toneladas de dinheiro com balas e nem me importo. Balas e gibis da turma da mônica foram minha primeira paixão que o dinheiro podia comprar então to nem ai. Aliás, se as pessoas não fossem me julgar por isso, eu leria gibis até hoje e economizaria um tanto de dinheiro que gasto comprando os milhares de livros que preciso ler até encontrar um que eu goste de verdade.
Nossa, eu poderia até pensar em mais coisas, mas isso já deve ter ficado entediante demais que não quero nem ver, não vou nem reler pra não dormir e esquecer o leite que eu deixei esquentando no fogão. Segurança acima de tudo né. Rio de janeiro pela paz e coisa e tal. Sei nem mais o que eu to falando.

sábado, 27 de novembro de 2010

Calma que fica pior, quer dizer, melhor... eu acho.

Sei que eu devia estar aqui falando loucamente sobre diagnósticos e sangue e todas as nojeiras incríveis que você espera ouvir de alguém que faz medicina, mas eu, na verdade, ainda não faço nada. Não sei nada. Não sei dizer o que dizer se alguém vier me perguntar como tratar de gripe. Não sei o que fazer se alguém cortar a mão com uma faca de legumes perto de mim. Eu ainda não sei fazer absolutamente nada. E isso, por incrível que pareça, não me incomoda. Isso não me incomoda porque me assusta o dia que eu vou precisar fazer as coisas e não vou poder dizer que não sei. Me assusta o dia que alguém vai depender de mim pra alguma coisa e eu vou ter que saber, não vai ter jeito, eu vou ter que saber dizer alguma coisa, fazer alguma coisa, qualquer coisa.
Me assusta pensar que esse dia, que parece longe, na verdade está bem perto, e eu tenho medo de não conseguir.
E então, pensando nisso, comecei a lembrar da época em que eu fazia teatro e aprendi a fazer um monte de coisas que eu não entendia e que achava que não seria capaz de fazer e que, agora, lembrando, me fazem sentir até uma certa nostalgia de quão simples era aquilo tudo (na verdade uma nostalgia bem grande daquelas que fazem você querer voltar praquele lugar amanhã mesmo). Um monte de coisas que me pareciam absurdas e desnecessárias naquele momento, mas que agora vejo como algo que, possivelmente (provavelmente), acrescentou alguma coisa à minha personalidade.
Deixe-me ilustrar: no início da aula, a professora nos fazia ficar andando pelo palco de um lado para o outro sem poder olhar para o chão. Tínhamos que andar com a cabeça erguida, fazendo contato visual com todos os outros alunos que vinham na direção contrária. Às vezes vinha aquele impulso de olhar pro chão, de ver pra onde meus pés estavam indo, ou de simplesmente não ter que encarar aquela pessoa com a qual eu não tinha a menor intimidade, mas logo era repreendida, e com o tempo aquilo foi ficando mais natural. Tão natural que, hoje em dia, eu ando pela rua e vou tropeçando por todos os cantos, quebrando vários membros e pisando em largas poças d'água porque não olho por onde ando.
Um outro exercício que eu não entendia de jeito nenhum era um do final da aula. A professora organizava os alunos em uma roda e todos tinham que começar a bater palmas para o nada. As palmas só acabavam depois que todos tinham pulado para o meio da roda e feito um sinal de agradecimento, como se tivessem acabado de apresentar um espetáculo. Eu só conseguia taquicardias por cogitar a possibilidade de entrar naquela roda. Só conseguia pensar "Essa professora está tentando me matar e SÉRIO, ela vai conseguir me matar. Talvez se eu ficar bem quietinha aqui na minha batendo palmas as pessoas vão esquecer que eu..."OPS, quando eu menos esperava alguém já tinha me empurrado para o meio da roda pra aula acabar logo e eu acabava fazendo alguma coisa bem sem graça e desengonçada, só querendo voltar logo pro meu lugar seguro, longe do meio da roda. Sempre esbanjei simpatia assim.
Tinha uns tantos outros, o exercício da respiração em que você ficava deitado e tinha que sentir a respiração e todos os outros órgãos funcionando; o da sementinha, que você ficava encolhidinha no palco e tinha que ir levantando devagarinho até virar sei lá uma árvore; o de tentar vender um objeto qualquer de dentro da sua bolsa sozinha no palco, e eu sempre tentava vender band-aids porque acho que nunca entendi o conceito desse exercício; o de ler um texto quase que gritando naquela salinha minúscula fingindo que estava num grande auditótio e o microfone tinha quebrado. Enfim, várias coisas que eu achava desagradável, que me faziam querer sumir por ter que encarar outros seres humanos naquela situação ridícula, que eu achava meio nada a ver, mas que praquele momento, praquele contexto tinham tudo a ver e acabaram sendo coisas que eu levei pra vida. Nossa, que clichê, esse texto poderia estar em formato power point que ninguém se surpreenderia, né.
Mas é verdade, o teatro, que era pra ser uma coisa só pra quebrar minha casca, pra me transformar numa pessoa mais sociável e menos tímida e que, no início, parecia uma tortura com platéia, acabou sendo uma das coisas que mais definiu minha personalidade. Virou uma parte de mim que eu nem percebo que está lá, mas que fico feliz que esteja. Essas coisas que me vêm à mente assim em paradoxos clichês são como se eu tivesse repetindo pra mim mesma, sem vergonha de ser brega, aquele ditado popular que diz que "há males que vem para o bem" e simplesmente dizendo "oi, Bem". Podem me processar por isso, mas o que é a vida senão um grande clichezão né?

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Totalmente demais

Me olhei no espelho agora e me assustei com o tamanho das minhas olheiras. Todo dia isso acontece, mas normalmente esse susto vem as 6 e meia da manhã, quando eu mal consigo abrir os olhos de tão inchados de sono, mas hoje foi assim de noitinha mesmo. Devem ser olheiras de tanto dormir.
Minha mãe não gosta de me ver dormindo tanto, sempre que eu me deito e escondo a cabeça com o edredon ela acha que tem alguma coisa errada comigo. Ela até hoje não entendeu que esse é o meu jeito de dormir. Meu padrasto, por outro lado, vive me diagnosticando com depressão: porque eu durmo demais, como chocolates demais, fico no computador demais, saio demais, fico em casa demais, bebo demais, falo no telefone demais, fico sozinha demais, quero fazer coisas demais, leio demais, choro demais, rio demais, sou chata demais, conto piadas demais, vejo filmes demais, não estudo demais, faço compras demais, fico de mau-humor demais, quero conversar demais, tudo demais. (a palavra demais até perdeu o sentido agora de tanto repetir né?).
Com exceção de minhas notas na faculdade, não sei ser medíocre, minhas emoções são sempre demais, ou de menos, mas isso ninguém repara, porque, pra quem vê de fora, tudo é um exagero. As pessoas não distinguem se você faz uma coisa demais ou de menos, elas só conseguem enxergar que é diferente do padrão, só conseguem dizer que não é normal e dai tentam te encaixar em alguma categoria pré-estabelecida. Eu mesma gosto de colocar cada pessoa em sua categoria, porém pra isso inventei um milhão de categorias diferentes, porque acho tudo o que é padrão muito chato (acho que por isso também nunca aprendi a mexer no excel). Alinhar coisas é insuportavelmente entediante. Gosto de tudo desalinhado, tudo bagunçado. Gosto de tirar todas as roupas do armário e jogar no chão só pra encontrar uma meia e depois guardar tudo embolado assim mesmo. Gosto de encontrar um papel todo amassado e desembrulhar ele pra descobrir o que estava escrito e depois ficar com pena de ter deixado ele se amassar tanto.
O problema é que as pessoas não suportam pessoas que são demais, para elas isso sim que deve ser entediante. Para pessoas que vivem no meio-termo, alguém que, por exemplo, dorme mais do que 8 horas por noite (ou por dia, que seja) está com problemas que merecem acompanhamento médico.
Eu não digo que eu sou especial por ir contra essa corrente, na verdade, devo ser exatamente o contrário: devo ser não especial demais.
Talvez por isso eu durma demais. Eu durmo demais porque eu sonho demais. E nos meus sonhos eu posso ser quem eu quiser, posso fazer o que eu quiser, posso dizer o que eu quiser, posso viver minhas emoções mais intensas junto com minhas idéias mais malucas e ninguém precisa ver isso. Dentro da minha cabeça ninguém pode mexer, ninguém pode me dizer o que está errado, ninguém pode me dizer se eu sou ou não normal (o que eu já nem sei mais qual dos dois representa uma vantagem). E, se o preço que eu pago por querer sonhar demais são uns olhares meio tortos quando eu vou até a cozinha pegar meu leite com nescau e umas olheiras assustadoras quando eu me olhar no espelho, está tudo bem, eu não me importo. Além do mais seria horrível desperdiçar toda essa maquiagem que eu compro demais se eu não tivesse nem uma olheirazinha pra cobrir né.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Quando falta sobre o que falar mal, você sempre tem sua família

Até os oito anos de idade eu tinha sido aquela sua típica filha única de pais divorciados. Vivia perdida em um mundo onde meus pais se comunicavam por bilhetes para falar mal de mim, achando que eu não sabia ler (e, achando que eu não sabia ler, achavam que eu entregava os tais bilhetes de um para o outro); num mundo em que meu pai era recebido pela minha mãe com cadeiradas nas costas e eu, tão pequena e mimada, tomava água com açúcar pra acalmar meus nervos enquanto um planejava como colocaria o outro na cadeia da forma mais cruel.
Eu tinha duas casas, duas festas de aniversário, dois repertórios diferentes de canções de ninar, um milhão de dramas e ainda assim não chegava nem perto de ser uma criança feliz pela metade, eu era feliz por inteiro com toda aquela atenção, com todos os holofotes sobre mim, com todos aqueles presentes lindos, e eu nem atriz principal era. Meus pais eram os protagonistas da história, eu era vista como prêmio. Como uma criança poderia não ser feliz sendo o prêmio de uma relação, mesmo essa não tendo dado lá muito certo? Bom, eu só não era lá muito feliz quando meu pai me jogava por cima do ombro e me levava pra sua casa de quinze em quinze dias no seu carro que insistia em sempre estar tocando aquela música "viveeer e não ter a vergonha se ser feliz..." que até aos meus ouvidos infantis me parecia extremamente paradoxal e, desde então, sempre tenho vontade de chorar ao ouvir essa música. Mas minha memória sempre foi curta, depois do primeiro ovomaltino que meu pai me trazia eu já nem lembrava a fisionomia da minha mãe (o mesmo vale para minha mãe que apesar da falta de dotes culinários, me comprava com muitas balas juquinhas que logo faziam eu esquecer da existência do meu pai).
Mas tá, se eu for contar todas as minhas pequenas aventuras da infância vou precisar de um livro inteiro (e não acho que muitas pessoas estariam interessadas em ler, além dos meus pais, que ficariam terrivelmente ofendidos pela minha visão deturpada de todas as coisas). Mas não é isso que eu vou fazer. Hoje resolvi que vou contar só a pequena parte de quando nasceu minha irmã.
Sim sim, meus pais continuam separados, então, obviamente, minha irmã é apenas meio irmã, mas meu pai odeia esse termo, então ela é "toda-irmã-linda" quando eu falo com meu pai, e "meio-irmã-filha-daquelazinha-lá" quando falo com a minha mãe, simples.
Enfim, eu podia dizer só que foi tudo uma coisa louca de ciúmes, que eu quebrei uns vasos lá em casa e depois meu pai me explicou como ele sempre ia me amar e nós duas iríamos dividir a herança em partes iguaizinhas e todo aquele blablabla e que ficou tudo bem. Mas não foi assim. Nenhuma história em que eu participo é simples assim. A história da minha irmã nascendo se divide em algumas partes (se você já ficou entediado de ler até aqui pode ir lá ver pornografia no redtube que não vai ficar muito mais animado não):
Parte I - gravidez: a mulher do meu pai ficou grávida e meu pai pediu pra eu não contar nada pra minha mãe. Sem muitos sentimentos nessa parte porque minhas energias foram todas direcionadas para guardar o segredo --> foi também quando eu descobri meu talento de mentir, quer dizer, de ser atriz.
Parte II - nascimento: ela nasceu e durante dois anos eu odiava ir pra casa do meu pai e todos os dias sonhava com formas de entrar no quarto dela e esfaquear ela de madrugada e voltar pro meu quarto sem ninguém perceber. Mas como nunca consegui pensar num bom plano me limitava a apertar as bochechas dela com toda a força e fingir que nada tinha acontecido quando ela começava a chorar (NARDONI ME DÁ UM ABRAÇO)
Parte III - o descobrimento: depois de dois anos que minha irmã tava lá vivona minha mãe descobre sua existência CHAN CHAN foi legal que primeiro ela me parabenizou pelo meu fantástico talento para mentir e me colocou no curso de teatro, depois foi meio chato que ela me deixou de castigo pra vida e até hoje acha que to sempre mentindo sobre tudo (o que é bem sensato da parte dela pra dizer a verdade)
Parte IV - a mudança: meu pai mudou de apartamento e eu tive que começar a dividir quarto com minha irmã, uma coisa louca de ódio contido no meu coração primeiro, não por ciúmes do meu pai nem nada, mas porque as coisas dela eram todas muito mais legais que as minhas e agora eu podia ver isso mais de perto, mas depois a gente acabou ficando migs e jogando várias partidas de banco imobiliário de madrugada (enquanto eu estivesse ganhando, é claro)
Parte V - dias atuais: minha irmã chegou em casa ouvindo uma música do restart, matei ela e estou escrevendo esse post diretamente de bangu I enquanto dou ordens pra traficantes do rio de janeiro queimarem carros e õnibus pela cidade.
Ok, mentira essa parte V, eu não fui presa não.
Hum, não tenho mais o que dizer, talvez se eu acrescentar uns coelhos falantes nesse texto posso transformar isso aqui numa fábula e mandar uma moral da história para todos refletirem. Mas não tem moral, eu só não tinha mais o que fazer (além de estudar pras provas finais da faculdade em que eu me encontro) e resolvi compartilhar essa bela história de amor, de aventura e de magia que só tem a ver com que já foi criança um dia com vocês.

domingo, 14 de novembro de 2010

Vou te dar uma idéia, chega ai

Antes de qualquer coisa gostaria de dizer que eu não sou a favor da sinceridade. Não mesmo. Não é todo mundo que tem estrutura emocional pra ouvir certas coisas que você tem a dizer (eu inclusive). A mentira é sempre a saída mais fácil: você não diz o que não quer, a pessoa não ouve o que não quer, todos alimentam suas gastrites com toneladas de segredos incompartilháveis e fica tudo bem, geral feliz, geral na night dividindo um refrigerante com vodka barata.
O problema é que algumas pessoas exigem de você uma sinceridade que não estava no contrato quando a gente veio aqui pra terra, uma sinceridade que você só pode oferecer se você tiver muita certeza do senso de humor e da auto-estima do seu interlocutor, além do quanto você valoriza aquela pessoa na sua vida, claro. Porque assim, se eu fosse distribuir todos os comentários sobre a vida alheia que eu tenho vontade, era adeus vida em sociedade, alô cavernas do tibete ~recebam carolina, sua nova ermitã.
Mas ok, eu não gosto de sinceridade apenas porque eu não sei lidar com a realidade. Em sinceridópolis não haveriam mais comentários sobre o quanto você está gorda e todo aquele mimimi sem um colega concordando por trás do seu ombro mostrando aquela sua celulite que você passou a vida torcendo pra ninguém reparar. Ninguém está preparado psicologicamente pra ver os outros não rindo das suas piadas e cagando enquanto você conta do sushi com o maridão. Sinceridópolis é uma utopia das mentes pequenas que se acham grandes demais para conviver com a falsidade. IMAGINA o que seria das pessoas legais se não houvesse falsidade -> elas não existiriam, apenas isso, mais nada.
Bom, anyways, mesmo eu curtindo essa vibe meio cazuza bregona de quero uma verdade inventada e coisa e tal tem algumas coisas que eu acho que seriam mais fáceis se a gente simplesmente lançasse uns choques de realidade assim como se fosse bala perdida, pra acertar galera que tá distraída achando que tá nessa pra ser feliz.
Por exemplo: Quando você está querendo engatar um relacionamento com alguém rola todo aquele conflito interno de stalkear enquanto play it cool, medir o nível de interesse que você pode demonstrar etc. É um gasto de energia absurdo que nem sempre é recompensado com 40 noites de amor né.
Tá, então, nesses casos que dizem respeito à saúde mental de seres humanos sem ring on it acho que o pessoal podia mergulhar nesse vale da sinceridade de cabeça. Tipos, pra começar: se alguém te manda uma mensagem ou qualquer coisa do tipo e você não tá afim de responder, tá tudo bem, você não precisa responder, mas agora AVISA! manda um "ALÔ ALÔ NÃO VOU TE RESPONDER 1 BEIJO CARINHOSO" que vai poupar toneladas de ATPs gastos em agonia do pobre indivíduo que passa o dia a apertar F5. O mesmo vale para promessas de telefonemas no dia seguinte, elogios sobre a beleza sem fim do coleguinha etc.
Não, eu não faço isso, eu sou mais da linha dos babacas que fazem comentários desnecessários ai pela vida, porque apesar de isso contradizer o que eu disse no início de não curtir gente sincera (comigo) eu não sei explorar todo o meu potencial de falsidade e acabo espalhando verdades (e rancor) por onde passo, porque afinal nenhum número de amigos é tão pequeno que você não possa dar um jeito de diminuí-lo, certo?
Essa foi uma camapanha pela vida no limiar da sinceridade, treinem um pouco e venha ser odiado você também.
mental note: manter uma opinião constante ao longo dos posts